Os
estudos em Linguística Textual, em princípio – décadas de 60 e 70 - consideravam
apenas a perspectiva sistêmica da língua, concentrando a análise na imanência
do texto. Não importava, neste primeiro momento, nem o processo de interação nem
os sujeitos envolvidos em tal interação. A preocupação maior era estabelecer os
critérios para se afirmar que um texto é um texto e, a partir disso, formular uma
gramática do texto.
Com a virada pragmática, o texto começa a ser visto como parte de um
processo, no qual os sujeitos que o constituem (produzem e compreendem) ganham
importância. Esses sujeitos, entretanto, são vistos, apenas, do ponto de vista
da ação verbal/social que se dá por meio do texto; isto implica pensar que
esses sujeitos se constituem como tal apenas no momento da interação e quando
eles são convidados pelo texto a existir – não são, portanto, sujeitos
autônomos, sujeitos que preexistem ao texto. Ainda é possível considerar,
portanto, que, neste segundo momento da Linguística Textual, o texto, mais que
os sujeitos, é o grande objeto de estudo. O texto, vale mencionar, não mais
visto como estrutura (ou macroestrutura), mas como parte de uma situação de
comunicação – com intenções ilocutórias e efeitos perlocutórios – com
enunciados que têm ilocução própria, mas também uma ilocução global e com um
texto que é parte constituinte da ação social.
A partir do que se chamou virada cognitivista, início da década de 80, é que os sujeitos passam a ser
vistos como aqueles que interferem, realmente, na constituição dos sentidos de
um texto – tanto para escrevê-lo quanto para lê-lo. Entretanto são vistos como
seres mentais, seres que, inseridos num ambiente sociocultural, fazem uso de
sua memória para agirem; fazem uso de seus esquemas cognitivos para se comunicarem
(usando que se chamou de frames ou scripts). O texto se torna, assim,
resultado de um processo mental de adequação do homem ao seu meio. Cultura é,
então, vista como algo estanque e independente do homem – ao homem cabendo
apreendê-la e agir nela adequadamente.
Finalmente,
na perspectiva sociocognitivo-interacionista, entende-se o homem como sujeito
inserido completamente num mundo social e cultural. Este homem não é fruto da
cultura e da sociedade, apenas, mas é, também, construtor deste mundo
sociocultural. E este sujeito não o faz isoladamente, mas em ações
compartilhadas. O conhecimento é, portanto, algo fundamentalmente social. A
cognição humana passa a ser vista como algo que é, ao mesmo tempo intracognição
e intercognição. A linguagem é definida como essencialmente dialógica e
interacional e o texto é, nesta perspectiva, torna-se o próprio espaço da
interação.
É neste momento, apenas, quando os
processos estudados deixam de ser os semânticos ou os pragmáticos e passam a
ser os cognitivos, que o homem se faz, realmente, sujeito de seu discurso, com
uma história que preexiste ao texto, utilizando, inclusive, esta história no
estabelecimento das interações sociais de que participam.
(reflexão escrita a partir da leitura da obra
KOCH, Ingedore G. V. Introdução à linguística textual. São Paulo: Martins Fontes, 2011.)
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