Acabei de ler o livro acima, do sociólogo britânico Stuart Hall. Excelente leitura, gostaria de recomendar. O autor apresenta as noções de sujeito e identidade, apresentando um panorama histórico que vai desde o Renascimento, passando pelo sujeito cartesiano e chegando aos dias de hoje. O livro discute a gênese da noção de sujeito, sua elevação ao posto de algo unificado e sólido e desemboca na noção de fragmentação e contrariedade tão típicos de nossa contemporaneidade.
O sujeito pós-moderno, na verdade, são muitos. Resultado de profundas mudanças no pensamento ocorridas desde o fim do século XIX, a identidade hoje é algo líquido, fluídico, quase indefinível.
Foi o Marxismo, com a dialética; Foucault com o poder da disciplina; Freud e a descoberta de que o homem é guiado por forças subconscientes que nem conhece; Darwin e a destruição do confortável mito de Adão e Eva; Saussure e a percepção de que a língua não é um conjunto de idiossincrasias, mas que ela é social; o Feminismo e tudo o que ele trouxe de transformação para as sociedades e; finalmente, a globalização como a entendemos hoje - altamente sustentada na ideia de consumismo - nós consumimos o mundo.
Eu acrescentaria, ainda, as ideias de Kardec - segundo as quais o homem, além do corpo físico e de um componente psíquico, possui, também, uma alma que é imortal e que esteve em outros corpos antes. Pensamento bastante controverso para quem insiste na ideia de um sujeito cartesiano - cogito ergo sum - racional, pronto e sólido. Finalmente, penso que seria válido citar Bakhtin, o que Hall não faz. Principalmente para complementar o que postulou Saussure. É óbvio que a língua é social, entretanto, seu aspecto social só existe na abstração. A partir do momento que se aciona a língua numa situação real de comunicação, ela passa a representar o sujeito (eu em oposição ao outro, como sugere Bakhtin), passa a ser um ato de fala concreto, único e irrpetível. Essa discussão pode e deve ser levada adiante por nós.
A ontogênese e a filogênese parecem se complementar quando se fala da consolidação e fragmentação do sujeito. A identidade não é algo inato nem na história da humanidade nem na história da pessoa - ela é uma construção, uma elaboração que nem sempre se dá de forma consciente. Aliás, o autor sugere que se fale atualmente em 'identificação' em vez de identidade, uma vez que um mesmo sujeito pode carregar diversas identificações.
Tudo isso me faz lembrar Fernando Pessoa e sua fantástica fragmentação - foram tantos poetas, tantas pessoas habitando o Pessoa que talvez seja ele o maior simbolo de toda essa discussão.
Vale, agora, refletir sobre o impacto de tudo isso na escola, mais precisamente no ensino-aprendizagem de língua portuguesa.
Leandro Luz