TEXTO, TEXTUALIDADE E ENSINO

Na miscelânea das teorias, na miríade dos nomes e no caleidoscópio das ideias sobre ensino-aprendizagem de língua e literatura, há diversos caminhos possíveis. Este blog propõe esta discussão vista por diversos ângulos.

terça-feira, 9 de novembro de 2010

REFLEXÕES

Tenho refletido sobre um tema que nos é comum a todos: FELICIDADE.
Eis o que tenho pensado:

As partes que compõem a felicidade, juntá-las é o desafio maior.
Felicidade física, felicidade intelectual, felicidade afetiva, felicidade financeira = juntando todas chego ao conceito de FELICIDADE MORAL.
Felicidade física: um prato da nossa comida favorita, um orgasmo, um passeio no parque, praia, uma noite bem dormida, enfim, coisas simples (às vezes nem tanto, eu sei);
Felicidade intelectual: a leitura de um bom livro, um papo cabeça com aquele amigo que leu um bom livro, um programa de TV aproveitável (isso anda difícil), matrícula num curso, enfim, coisas viáveis;
Felicidade afetiva: um novo amor ou um amor antigo, mesmo, o orgasmo de novo (com ou sem amor), amigos reunidos, família, enfim, coisas possíveis;
Felicidade financeira: equilíbrio entre cheque especial, cartão de crédito e salário; aplicações (ainda que modestas); aumento; o amigo que paga a velha dívida, enfim, coisas desejáveis;
Felicidade moral: a soma de todos os itens anteriores de forma duradoura, enfim, utopia. Não utopia pelo caráter de impossibilidade que o termo nos sugere, mas pela ideia de busca, de sonho, de algo idealizado. Será que seremos moralmente felizes nesta vida? Será que existe outra para sermos, então, felizes? Será, aliás, que temos mesmo de ser moralmente felizes para sermos felizes? Ou é tudo uma questão de olharmos para as pequenas felicidades que temos diariamente e sermos simplesmente felizes? Perguntas sem respostas... em que felicidade devo encaixá-las?

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Ensinar português

Somos texto. Nascemos e morremos lendo e produzindo textos. Não há nenhuma forma de conhecimento ou aprendizagem que não se dê por meio dos textos. Fora do texto não há vida. O universo é um grande texto em eterna construção.

Todo este aparente exagero textual presta-se ao grandioso serviço de resgatar a importância da língua em todas as relações humanas e, consequentemente, do professor de línguas. 

Pensando em tudo isso é que não posso admitir que alguém acredite que ensinar português pode se reduzir a ensinar um conjunto de regras, dicas, receitas de como ler ou escrever bem. Não é possível reduzir a importância da aula de línguas sem reduzir a importância da própria língua e, com isso, reduzir a humanidade que habita em nós. Somos animais que pensamos e pensamos em uma língua e é na e com a língua que estabelecemos contato conosco e com os outros.

Ensinar português é, pois, ensinar a ser humano. É, pois, ensinar a pensar, a ler o mundo, os outros e a si mesmo. As regras, se há mesmo regras, só fazem sentido se auxiliam neste intenso encontro do homem consigo e com o outro. 
Um pouco do capítulo do II e III, apenas complementando as informações já postadas pelas colegas Jussara e Denise.

O texto traz uma abordagem complexa de conceitos como gêneros de discurso e dialogismo que destacam a importância de conceitos fundamentais do filósofo russo, Mikhail Bakhtin, que fez uma obra considerada como fundamental para as áreas da Educação e Linguagem.

O Dialogismo é um processo de interação entre os outros textos de dialogarem entre si, mostrando as diversas vozes presentes em um mesmo discurso, além de estabelecer a relação de um discurso e outro. Ou seja, é como se ouvíssemos sempre ao menos duas vozes, mesmo que elas não se destaquem no discurso. Dessa forma, o autor nos mostra a importância dos vários sentidos que esse conceito pode assumir.

Após ler diversas vezes o mesmo parágrafo, página, conceitos e até dicionário, compreendo que língua, enunciado e gênero do discurso estão totalmente relacionados para Bakhtin, pois, elas são ferramentas importantes para o bom andamento de toda e qualquer comunicação.

Assim, as diversas atividades humanas formam vários gêneros do discurso, que segundo Bakhtin resulta em “um tipo relativamente estável de um enunciado”. Além disso, o filósofo russo nos ensina que toda a nossa comunicação, ou seja, quando falamos, escrevemos e até gesticulamos são por meio dos gêneros do discurso. Assim, existe uma infinidade de gêneros, que muitas vezes usamos inconscientemente no dia a dia, como, por exemplo, nas conversas informais. No entanto, esses tipos de gêneros não param de se transformar, são atualizados sempre, já que tudo é modificado, seja pelos hábitos ou até mesmo pela tecnologia.

Dessa forma, com uma extensa infinidade de gêneros, Bakhtin classificou os gêneros do discurso em dois grupos: primários e secundários. Os primários são os gêneros da vida cotidiana, são predominantemente, mas não exclusivamente, orais. Relacionam-se com as situações comunicativas espontâneas, informais e imediatas, como, por exemplo, uma carta, piada, bate-papo, bilhete, conversa telefônica e etc. Já os secundários aparecem nas situações comunicativas mais complexas e elaboradas, como a jornalística, jurídica, religiosa, filosófica, artística, científica, entre outras, que são mediadas pela escrita.

Outra grande questão é que um texto pode passar de um gênero para o outro quando for colocado em outro contexto, ou seja, em outra esfera de atividade, como o autor José Luiz Fiorin especificou no exemplo da placa de trânsito.

Vivian Cunha

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

FIORIN - INTRODUÇÃO AO PENSAMENTO DE BAKHTIN

CAPÍTULO 1

Bahktin nasceu ao sul de Moscou, era pobre de familia aristocrata, morou e trabalhou em diversas cidades, assim, desde pequeno convive com várias línguas o que facilita torná-lo ujm poliglota. Formou-se em Letras, História e Filologia. Ao longo de sua vida constituiu um grupo de amigos intelectuais. Em 1929 foi preso e devido a sua saúde precária a pena no campo de concentração foi transformada em exílio, condenado a 05 anos aproveitou esse tempo para escrever sobre sua teoria do romance. Em 1940 apresentou sua tese de doutorado, “Rabelais e a cultura popular”, após diversas polêmicas geradas pelo trabalho, o título de doutor foi negado pelo comite. Esse mesmo trabalho quando publicado em 1965, deu-lhe renome mundial. Faleceu em Moscou, em 1975.

Sua trajetória foi marcada pelo ostracismo (isolamento), exilio e pela marginalidade dos círculos acadêmicos mais prestigiados, no entanto sua escrita e reflexão, fez dele um dos grandes pensadores do século XX.

Sua obra é fascinante, inovadora e rica, mas também complexa e difícil, a leitura é árdua e trabalhosa.
 
JUSSARA

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

IDENTIDADE CULTURAL NA PÓS-MODERNIDADE

Acabei de ler o livro acima, do sociólogo britânico Stuart Hall. Excelente leitura, gostaria de recomendar. O autor apresenta as noções de sujeito e identidade, apresentando um panorama histórico que vai desde o Renascimento, passando pelo sujeito cartesiano e chegando aos dias de hoje. O livro discute a gênese da noção de sujeito, sua elevação ao posto de algo unificado e sólido e desemboca na noção de fragmentação e contrariedade tão típicos de nossa contemporaneidade.
O sujeito pós-moderno, na verdade, são muitos. Resultado de profundas mudanças no pensamento ocorridas desde o fim do século XIX, a identidade hoje é algo líquido, fluídico, quase indefinível.
Foi o Marxismo, com a dialética; Foucault com o poder da disciplina; Freud e a descoberta de que o homem é guiado por forças subconscientes que nem conhece; Darwin e a destruição do confortável mito de Adão e Eva; Saussure e a percepção de que a língua não é um conjunto de idiossincrasias, mas que ela é social; o Feminismo e tudo o que ele trouxe de transformação para as sociedades e; finalmente, a globalização como a entendemos hoje - altamente sustentada na ideia de consumismo - nós consumimos o mundo.
Eu acrescentaria, ainda, as ideias de Kardec - segundo as quais o homem, além do corpo físico e de um componente psíquico, possui, também, uma alma que é imortal e que esteve em outros corpos antes. Pensamento bastante controverso para quem insiste na ideia de um sujeito cartesiano - cogito ergo sum - racional, pronto e sólido. Finalmente, penso que seria válido citar Bakhtin, o que Hall não faz. Principalmente para complementar o que postulou Saussure. É óbvio que a língua é social, entretanto, seu aspecto social só existe na abstração. A partir do momento que se aciona a língua numa situação real de comunicação, ela passa a representar o sujeito (eu em oposição ao outro, como sugere Bakhtin), passa a ser um ato de fala concreto, único e irrpetível. Essa discussão pode e deve ser levada adiante por nós.
A ontogênese e a filogênese parecem se complementar quando se fala da consolidação e fragmentação do sujeito. A identidade não é algo inato nem na história da humanidade nem na história da pessoa - ela é uma construção, uma elaboração que nem sempre se dá de forma consciente. Aliás, o autor sugere que se fale atualmente em 'identificação' em vez de identidade, uma vez que um mesmo sujeito pode carregar diversas identificações.
Tudo isso me faz lembrar Fernando Pessoa e sua fantástica fragmentação - foram tantos poetas, tantas pessoas habitando o Pessoa que talvez seja ele o maior simbolo de toda essa discussão.
Vale, agora, refletir sobre o impacto de tudo isso na escola, mais precisamente no ensino-aprendizagem de língua portuguesa.

Leandro Luz

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

ENSINO DE LÍNGUA PORTUGUESA

Língua não é o que algum gramático amordaçou e prendeu em um livro. Não é um conjunto de regras estanques nem é o que foi há cem ou duzentos anos, ainda que viva nos cânones literários.
Língua é o que o povo diz que é língua sem dizer.
As pessoas não falam porque alguém lhes ensinou que sujeitos e predicados não devem vir separados por vírgulas. Falamos usando sujeitos e predicados sem pensar em sujeitos e predicados e isso faz toda a diferença. Se o povo fala sem dar nome ao que fala e sem pensar em regras, por que o professor de português tem de ensinar nomes e regras? Ou melhor, quando e para que se deve ensinar isso?
Quem de nós, ao pensar numa entrevista de emprego, prepara-se decorando períodos compostos, predicativos do sujeito ou objetos indiretos? Acredito que ninguém.
E como negar que, apesar de nada convencional, as pessoas se comunicam pelo MSN, atribuindo às suas 'falas' traços profundos de suas identidades?
É inegável que a língua passa, atualmente, por inúmeras transformações em seus variados usos e seria no mínimo inocente imaginar que a aula de português poderia continuar sendo a mesma.
Não formamos analistas ou técnicos do idioma nas nossas escolas, formamos cidadãos. Tendo isso em mente, é possível afirmar que o professor deve ensinar o que o aluno precisa aprender de fato, e o aluno, por sua vez, ao perceber que o que está aprendendo tem sentido no seu dia-a-dia, há de se tornar mais interessado.
A língua é viva e, em vez de autópsias (análises vazias), devíamos estar olhando para os usos que nós - seres vivos, também - fazemos dela todos os dias desde que fomos a ela apresentados ainda crianças.

Leandro Luz