TEXTO, TEXTUALIDADE E ENSINO

Na miscelânea das teorias, na miríade dos nomes e no caleidoscópio das ideias sobre ensino-aprendizagem de língua e literatura, há diversos caminhos possíveis. Este blog propõe esta discussão vista por diversos ângulos.

segunda-feira, 28 de setembro de 2015

Autores e obras: identidade e memória

    



A literatura não é um bloco cronologicamente organizado como querem fazer pensar vários livros didáticos e alguns de História da Literatura. Os autores e os estilos predominantes não se sucederam uns aos outros de forma pensada e intencional. A verdade é que foi sempre uma profunda inquietação que moveu e move o homem em direção às transformações que ocorreram e ocorrem não só em Literatura, mas na arte de forma geral e, mais amplamente, em todo o saber humano.
            A História, quando estudada por uma perspectiva mais tradicional, tende a criar blocos temporais e espaciais que nos dão a impressão de que a vida só é desorganizada e caótica hoje e que no passado tudo aconteceu sempre harmoniosamente. Assim, parece-nos que aos primeiros contatos dos europeus com os povos que aqui habitavam, sucedeu naturalmente um interesse em explorar nossas riquezas e após esse primeiro interesse, também naturalmente, instalaram-se aqui pequenas vilas e essas vilas cresceram e se tornaram povoados maiores. Esses povoados reunidos decidiram que era hora de se desligarem da matriz e houve, então, nossa independência.
A impressão que se tem é que antes de 1822 jamais se havia pensado em independência, desconectando desse processo as iniciativas e revoltas todas que aconteceram antes, como a Inconfidência Mineira. Citar que houve tal revolta não basta, é necessário entender que esses processos todos estão intimamente ligados e se influenciando. Não haveria um pensamento abolicionista, por exemplo, se não tivesse ocorrido a Revolução Francesa e esta, por sua vez, também é fruto de um pensamento que vinha amadurecendo havia muito tempo na Europa. Enfim, todo acontecimento histórico está sempre relacionado a outro e pode ser muito mais amplamente entendido se assim for estudado desde o princípio.
            Com a Literatura, em geral, acontece o mesmo. Estudam-se as chamadas escolas literárias separadamente e espera-se que depois o aluno faça as conexões necessárias. No máximo, o que se discute é a influência de uma escola na escola imediatamente posterior, assim, pensa-se nas influências do Arcadismo sobre o Romantismo, por exemplo, e deste sobre o Realismo, sempre seguindo essa abstrata linha temporal que alguém convencionou. Por que não estudarmos a Carta de Caminha em um contraste com o Brasil que se criou depois da semana de 22, ou que se almejou criar? Por que não encontrarmos elos entre Gregório de Matos e Oswald de Andrade ou entre eles e Chico Buarque, uma vez que esses e outros usam a literatura como arma de crítica social e política?
            Antônio Cândido (2007) propõe uma visão dialética dos períodos literários que não se anulam, mas se complementam. Temos, entretanto, de pensar que esses períodos além de se complementarem, também se mesclam. Isto é, há elementos fundadores nas literaturas nacionais que vão ser recorrentes em diferentes estilos, autores e gêneros. Esses elementos vão constituir o que seria a memória literária de um país e vão ser constituintes da própria personalidade dessa nação.
            A busca por uma independência cultural e a descoberta de um fazer literário próprio e legítimo, por exemplo, norteou as literaturas da América. Em relação aos Estados Unidos, por exemplo, segundo High (1997), a independência que ocorreu efetivamente política e militarmente, não aconteceu culturalmente, pelo menos não de imediato. Segundo o teórico, demorou mais de um século para que a literatura norte-americana desenvolvesse uma tradição independente da europeia. Nem mesmo havia leitores para uma literatura de cunho nacional, porque, assim como aqui no Brasil, só era valorado o que vinha da metrópole.
            A construção de uma paisagem nacional, de um pensamento coletivo que de certa forma traduza uma nação ao seu povo sintetiza muito do pensamento que tem norteado a criação literária não só no Brasil como em todo o mundo. Muitas vezes, essa construção identitária se dá exatamente pela negação dessa identidade, como é possível ver nas correntes que rompem com modelos e padrões.
Nesse sentido, escritores e poetas desenvolvem suas obras seja no sentido de construção de uma paisagem, como foi o caso de Gonçalves Dias ou José de Alencar ou de desconstrução dessa paisagem como temos em Mario de Andrade ou mais contemporaneamente em Chico Buarque com Leite derramado. Esse processo é chamado de sacralização e dessacralização por Bernard (2003), isto é, a literatura se estabelece ora promovendo uma paisagem ora a desconstruindo, isto é, tanto a exaltação de um ideal nacionalista como sua negação servem ao propósito de elaboração de uma identidade nacional comum.
            Afrânio Coutinho (2008) fala de pelo menos três maneiras de se estudar Literatura. Primeiramente, fala da perspectiva história que parece ter predominado nos cursos de Letras, assim como no ensino médio e questiona esse formato, exatamente pelo que já foi aqui mencionado. Em seguida, o autor apresenta uma visão genológica dos estudos literários, isto é, voltado exclusivamente para o fenômeno literário em si. Finalmente, ele nos apresenta uma terceira possibilidade, que, aparentemente parece corroborar a discussão que ora se apresenta: uma visão baseada em gênero e estilo. Estudaríamos, assim, determinado gênero, o romance, digamos, em diferentes momentos históricos, dentro do estilo predominante em cada momento. Digo aparentemente porque o que se discute aqui não é uma evolução do gênero nos diferentes estilos, simplesmente, mas, numa visão mais bakhtiniana, seria um diálogo dos diferentes gêneros nos diferentes estilos. Assim, extrapolamos a noção de sequência histórica para buscarmos afinidades entre os vários momentos que formaram e formam a identidade literária do nosso povo. Bakhtin propõe, com sua idéia de dialogismo, que os textos todos estão em constante e profundo diálogo, isto é, nenhum texto está isolado da influência de outros, bem como de influenciar outros textos futuros.
            Segundo essa perspectiva, poderíamos desenvolver as aproximações necessárias a um entendimento mais crítico e amplo das literaturas nacionais. Uma literatura nacional deixaria, assim, de ser um bloco organizado cronológica e/ou espacialmente para ser um complexo processo de construção e desconstrução contínuas de uma paisagem histórica, social e política a partir de um mito fundador que é recorrente em diferentes gêneros e em diferentes estilos. Exemplo disso é a aproximação de Gregório de Matos e Chico Buarque anteriormente proposta, seria século XVI e século XXI dialogando, seria poesia e prosa se encontrando.

            A proposta deste texto é, dessa forma, estabelecer uma reflexão que permita a aproximação e não a segregação, como tem acontecido tradicionalmente entre períodos, estilos, gêneros literários; bem como entre escritores, poetas e críticos literários. Não é necessariamente um ponto de vista novo, mas inovador. O objetivo é provocar uma reflexão mais abrangente do fenômeno literário e instrumentalizar o leitor para entender, posteriormente, as características estruturais das diferentes obras literárias sem jamais perder de vista o todo formador de uma identidade literária nacional.



BAKHTIN, M. Estética da criação verbal. Tradução feita a partir do Francês por Maria E. Galvão G. Pereira. São Paulo: Martins Fontes, 2ª. Ed., 1997.
BERNARD, Z. Literatura e identidade nacional, 2ª. Ed. Porto Alegre – RS: Editora da UFRGS, 2003.
CANDIDO, A. Iniciação à literatura brasileira, 5ª. Ed. Rio de Janeiro: Ouro sobre azul, 2007
COUTINHO, A. Notas de teoria literária. Petrópolis – RJ: Vozes, 2008
HIGH, P. An outline of American Literature, 15ª. Ed. England: Longman, 1997







quinta-feira, 15 de maio de 2014

BREVE COMENTÁRIO SOBRE O ITINERÁRIO EPISTEMOLÓGICO DA LINGUÍSTICA TEXTUAL




                                         Os estudos em Linguística Textual, em princípio – décadas de 60 e 70 - consideravam apenas a perspectiva sistêmica da língua, concentrando a análise na imanência do texto. Não importava, neste primeiro momento, nem o processo de interação nem os sujeitos envolvidos em tal interação. A preocupação maior era estabelecer os critérios para se afirmar que um texto é um texto e, a partir disso, formular uma gramática do texto.

                                        Com a virada pragmática, o texto começa a ser visto como parte de um processo, no qual os sujeitos que o constituem (produzem e compreendem) ganham importância. Esses sujeitos, entretanto, são vistos, apenas, do ponto de vista da ação verbal/social que se dá por meio do texto; isto implica pensar que esses sujeitos se constituem como tal apenas no momento da interação e quando eles são convidados pelo texto a existir – não são, portanto, sujeitos autônomos, sujeitos que preexistem ao texto. Ainda é possível considerar, portanto, que, neste segundo momento da Linguística Textual, o texto, mais que os sujeitos, é o grande objeto de estudo. O texto, vale mencionar, não mais visto como estrutura (ou macroestrutura), mas como parte de uma situação de comunicação – com intenções ilocutórias e efeitos perlocutórios – com enunciados que têm ilocução própria, mas também uma ilocução global e com um texto que é parte constituinte da ação social.

                                        A partir do que se chamou virada cognitivista, início da década de 80, é que os sujeitos passam a ser vistos como aqueles que interferem, realmente, na constituição dos sentidos de um texto – tanto para escrevê-lo quanto para lê-lo. Entretanto são vistos como seres mentais, seres que, inseridos num ambiente sociocultural, fazem uso de sua memória para agirem; fazem uso de seus esquemas cognitivos para se comunicarem (usando que se chamou de frames ou scripts). O texto se torna, assim, resultado de um processo mental de adequação do homem ao seu meio. Cultura é, então, vista como algo estanque e independente do homem – ao homem cabendo apreendê-la e agir nela adequadamente.

                                        Finalmente, na perspectiva sociocognitivo-interacionista, entende-se o homem como sujeito inserido completamente num mundo social e cultural. Este homem não é fruto da cultura e da sociedade, apenas, mas é, também, construtor deste mundo sociocultural. E este sujeito não o faz isoladamente, mas em ações compartilhadas. O conhecimento é, portanto, algo fundamentalmente social. A cognição humana passa a ser vista como algo que é, ao mesmo tempo intracognição e intercognição. A linguagem é definida como essencialmente dialógica e interacional e o texto é, nesta perspectiva, torna-se o próprio espaço da interação.
  

                                               É neste momento, apenas, quando os processos estudados deixam de ser os semânticos ou os pragmáticos e passam a ser os cognitivos, que o homem se faz, realmente, sujeito de seu discurso, com uma história que preexiste ao texto, utilizando, inclusive, esta história no estabelecimento das interações sociais de que participam. 




(reflexão escrita a partir da leitura da obra
KOCH, Ingedore G. V. Introdução à linguística textual. São Paulo: Martins Fontes, 2011.)



terça-feira, 13 de maio de 2014

DISCUTINDO CURSO DE LINGUÍSTICA GERAL - SAUSSURE




                O Curso de Linguística Geral, de Ferdinand Saussure, está, certamente, entre os livros mais importantes da Linguística de todos os tempos e, também, entre os mais estudados e comentados por quem vai se aprofundar na ciência da linguagem. Não há quem passe por um curso de Letras sem ao menos ouvir falar de Saussure. Para alguns, o suíço está ultrapassado, para outros, ele ainda é fonte de grandes reflexões. Penso que, como qualquer grande obra, o Curso de Linguística Geral é complexo e multifacetado, isto é, não se pode analisá-lo como um bloco homogêneo com o qual se concorda ou não. Primeiramente, por se tratar de uma compilação das aulas do linguista genebrino feita por alguns de seus discípulos, além disso, por ser um marco conceitual. Como diria Bakhtin, é um discurso fundador, sendo, exatamente por isso, controverso, polêmico e complexo. É neste sentido que pretendo tecer alguns breves comentários sobre a obra: pensando em seu ineditismo, sua complexidade e na sua contemporaneidade.
                Antes de Saussure, não havia o estudo da língua e da linguagem como o entendemos hoje. Havia, essencialmente, estudos de gramática histórica e gramática comparada. A partir de Saussure, nasce uma nova ciência, com objeto e método próprios: a Linguística.
                O primeiro desafio de uma nova ciência é definir seu objeto e Saussure afirma que a Linguística não poderá se comparar à Química ou à Matemática, mas, sim à História. Com isto, ele nos liberta de uma prisão epistemológica; não ter tão definido assim qual o objeto da Linguística longe de ser um problema é um ponto positivo. Penso, aliás, que foi exatamente esta aparente indefinição que permitiu que a Linguística, no decorrer do século XX se subdividisse em tantas outras ciências (Sociolinguística, Psicolinguística, Análise do Discurso, Linguística Textual, Análise da Conversação etc) que, ao invés de fragmentarem-se mutuamente, pelo contrário, somam-se na tentativa de entender a língua e a linguagem. Prova cabal de que nosso objeto não é redutível ou calculável facilmente. Trata-se, antes, da complexidade do elemento que permite a existência de todos os outros, do próprio pensamento, como diz Saussure. É a língua que nos permite fazer ciência em todas as áreas e é a língua que nos permite metaforizar nossos próprios sentimentos; é a língua que, nos tribunais, condena ou absolve; é ela ainda o objeto de trabalho do psicanalista. Enfim, o linguista tem diante de si um objeto multifuncional e multifuncional; irredutível, pois, ao simplismo cartesiano ou ao determinismo positivista.
                Vencido tal desafio, Saussure precisou, de certa forma, negar o que era feito na área de estudos da linguagem. Para isto, ele propõe o estudo sincrônico da língua, contra o olhar diacrônico, vigente até então. Passa-se, assim, a observar a língua como ela é e não como ela vem sendo. Obviamente, o que Saussure propôs não foi o abandono da história das transformações da língua. Entendo que a proposta sassureana é colocar a diacronia a serviço do estudo sincrônico da língua, isto é, a partir da análise do que a língua é hoje, se necessário for ao entendimento do fenômeno, buscar subsídios na história, na etimologia, na evolução dos usos linguísticos. Falo de uma diacronia que completa o sentido atual da língua e não em um estudo diacrônico per se. Estava, desse modo, definido o foco da nova ciência: a língua hoje.
                A este respeito, Saussure comete o que para alguns é seu maior equívoco: centrar a ciência na língua e não na fala.
                O linguista precisou fazer uma difícil escolha epistemológica. Na estruturação da nova ciência, Saussure escolheu o sistema, em vez do uso. A língua foi privilegiada e não seu funcionamento real, como elemento de interação social. Tal falha, se é que podemos falar assim, é, entretanto, justificável, pelo seu momento histórico, pelo que se conhecia de língua até então, pela forte influência das pesquisas em ciências naturais, nas quais o idiossincrático não pode ser levado em consideração e pela necessidade de se escolher, metodologicamente, um elemento de análise mais concreto. Por isso tudo a língua se fez predominante.
                Entretanto, em alguns momentos, Saussure antecipa estudos enunciativos. Ao falar de valores, por exemplo, ele está falando do processo de enunciação, pois é na enunciação que a palavra ou a sentença ganha valor além do simples significado denotativo. Ele dá o exemplo do uso da palavra ‘senhores’ durante uma palestra ou reunião. Diz Saussure que a palavra é a mesma, porém a intenção, a entonação, ou seja, os valores a ela atribuídos são variados. Ora, o que é isso senão o enunciado em seu caráter irrepetível? Cada vez que eu enunciar ‘senhores’ será um novo enunciado, ainda que tenhamos, para a gramática, a mesma palavra ou frase. Obviamente que a tal conclusão só posso chegar hoje, após os estudos na área da Enunciação. Saussure não tinha como fazer tal afirmação, mas ele já percebia um caráter volátil na língua, algo que ultrapassa os limites do sistema e da estrutura, algo que eleva à língua ao status de elemento crucial de interação social.
                Em sua ânsia de definir um objeto para a Linguística e, ao mesmo tempo negar o que se vinha fazendo até então, Saussure estabelece o conceito de ‘signo linguístico’. A partir deste conceito, expandiram-se e ainda se expandem as diversas interfaces dos estudos da linguagem. O signo está no centro das construções enunciativas, está no centro das interações linguísticas e está no centro da teoria saussureana.
                Trata-se de algo simples para nós, hoje, mas pensando no momento em que foi, pela primeira vez definido, certamente o conceito de signo provocou grandes mudanças no pensamento acerca da língua. O signo é a junção simultânea de um significante e um significado, isto implica dizer que uma sequência sonora – uma imagem acústica (significante) só passa a ser signo se os interlocutores estabelecem para ela um sentido (significado). É o signo, também, que nos permite falar de coisas que não estão ao nosso redor, que sequer existem, pois o significado do signo é diferente do referente (a coisa real que existe no mundo). O significado é a imagem que carregamos em nossa mente do objeto, por isso Saussure insiste tanto no caráter psicológico da língua. Para ele, a língua é a representação mental do universo, melhor, ela é a soma das representações todas de todos os falantes. Ela não está inteira contida em um falante, mas na soma de todos. Diante disso, percebemos a existência de três entidades distintas, embora indissociáveis na formação do signo linguístico: o significante, o significado e o referente.
                Ainda sobre o signo, algo ainda mais simples foi evidenciado por Saussure. Falo da questão da linearidade do signo. Na verdade, linearidade do significante, isto é, esta tal imagem acústica se apresenta ocupando determinado espaço físico e cada um de seus elementos constituintes – fonemas ou letras – segue determinada ordem linear. Diferentemente do significado, que é visualizado psiquicamente em sua totalidade. Por exemplo, ao dizer ou escrever a palavra ‘mesa’, temos necessariamente uma sequência de letras e fonemas: ‘M – E – S – A’, entretanto, ao ser pronunciada, imediatamente o ouvinte resgata em sua mente, o objeto ‘mesa’ em sua totalidade.
                Finalmente, Saussure nos fala das escolhas que fazemos ao nos comunicarmos, seja dentro da palavra seja em sua relação com outras palavras. Ele nos propõe a noção de sintagma e paradigma. Para o linguista, paradigma é o conjunto das escolhas possíveis para preencher determinada função ou ocupar determinada posição na linearidade do significante (ter determinado valor). Sintagma, por sua vez, é o conjunto das escolhas efetivamente feitas no uso da língua. Assim, para a palavra ‘mesa’, temos o sintagma ‘m – e – s –a’, mas havia dezenas de possibilidades combinatórias, ou seja, paradigmas: musa / pesa / lesa / lisa / mera / muro etc. As variações paradigmáticas são infinitas. Esta capacidade gerativa será explorada posteriormente por outros linguistas, dentre eles, Chomsky.
                No nível da sentença, temos o mesmo processo; dentro de uma infinidade paradigmática, alguns sintagmas são escolhidos e efetivamente usados. Assim, por exemplo, em: ‘o menino comprou chocolate’, a posição de sujeito ‘o menino’ poderia ser ocupada por centenas de outros elementos. Do mesmo modo, o objeto direto ‘chocolate’ poderia ser alterado. O verbo poderia ser outro e assim por diante, gerando uma infinidade de combinações frasais.
                Por tudo isso é que estudar Saussure, ainda hoje, é essencial a quem pretende se aprofundar nos estudos da língua e da linguagem, ainda que seja para discordar dele. Não há como negar as profundas transformações que Saussure provocou no modo de olhar para a língua e seu funcionamento. Obviamente, muito se avançou desde 1913, quando foi lançado o Curso de Linguística Geral, ainda bem, mas muito do que se fez, senão tudo, teve influência saussureana.





                

segunda-feira, 12 de maio de 2014

VARIAÇÃO LINGUÍSTICA, UM BEM NECESSÁRIO






O português do Brasil não é um. O português do Brasil são milhões. O português do Brasil somos todos nós – todos nós e nossas variações linguísticas. Variações estas que ocorrem em decorrência de determinados fatores, tais como: evolução histórica do idioma; localização geográfica; influência de línguas locais (indígenas) e estrangeiras; faixa etária; nível de escolaridade; grupos sociais etc e que representam um riquíssimo patrimônio da nossa cultura.
Antes de ser um problema, a variação linguística é fundamental para a sobrevivência de uma língua. Segundo a teoria da evolução das espécies de Darwin, está nas diferenças genéticas a chave da longevidade de uma espécie, uma vez que se atacada por uma moléstia, nem todos da espécie serão mortos. Do mesmo modo, a diversidade é o que garante que uma língua não se extinga ou não se isole – cada vez que a língua encontra uma novidade social que ela, por sua vez, precisa representar;  a língua, então, renova-se e se transforma. Assim aconteceu com todas as invenções modernas do século XX, por exemplo, e, mais particularmente, com o advento da internet e de todo o seu léxico. Variação linguística é, portanto, não só inerente às línguas, mas fundamental para a manutenção de sua existência.
Entretanto, há, ainda, muito preconceito em relação a alguns falares. A verdade é que a discriminação que certos grupos sociais sofrem estende-se ao seu falar. O pobre, o negro, o homossexual, o nordestino, por exemplo, são grupos que sofrem diversos preconceitos e o linguístico é apenas mais um. Fato é que o falar desses grupos nada tem de inferior ou errado – eles conservam a marca de sua identidade – e precisam, pois, ser respeitados e, mais que isso, valorizados.
A classe dominante não só oprime as outras economicamente, mas também linguisticamente. Privilegia-se um modelo de falar que se torna norma e quem não se submete a ele está excluído. Isso, além de cruel – posto que alija o sujeito de sua cultura – é injustificável do ponto de vista linguístico. A diversidade linguística, assim como as outras que hoje se discutem – diversidade cultural, diversidade sexual etc – é algo extremamente precioso e necessário. Somos seres diversos e, também somos seres culturais. Nossa diversidade, ao lado de nossa cultura são pontos basilares para a constituição de nossa identidade – cercear o direito à diversidade linguística é, pois, amputar do sujeito parte fundamental de sua identidade.
Por outro lado, é direito de todo cidadão ter acesso a outras variantes, além da sua própria. É direito, portanto do menino que adentra a escola, conhecer outros falares, dominar outras escritas, expandir, em outras palavras, seu universo linguístico. Dentre todo este novo conhecimento, é direito dele conhecer, também, a chamada norma culta padrão – principalmente pelo fato de que, para o bem ou para o mal, é ela que ainda garante a todos os mesmos direitos, é ela que assegura, ainda, a chance de alguma ascensão social.
À escola cabe a difícil tarefa de introduzir o aluno a um universo linguístico múltiplo e diversificado, respeitando suas idiossincrasias e, ao mesmo tempo, indicando-lhe o modo dito ‘correto’ de se expressar. Este processo, entretanto, não deve se dar de modo acrítico e apolítico, muito pelo contrário: o professor deve estar consciente de que está ensinando ao dominado a língua do dominante, exatamente, para que ele possa deixar de ser dominado.
Língua não é algo neutro ou inocente, ela existe, também, para disseminar e impor ideologias. Foi assim com a dominação católica durante toda a Idade Média, por exemplo. Foi assim durante o processo de colonização que sofremos e é assim, hoje, quando somos bombardeados por uma mídia corrompida, cujo único interesse é garantir lucros a quem a patrocina. Nesse sentido, cada cidadão é um consumidor em potencial e consome mais um povo que fala a mesma ‘língua’, por isso a cruel tentativa de homogeneização de nossos falares empreendida pelos meios de comunicação de massa. A língua é tão avessa à neutralidade que compõe, inclusive, a autoestima dos sujeitos: ao acreditar que a língua que fala é errada, o sujeito excluído está aceitando a sua exclusão como algo que ele merece.
Não é possível, diante de tudo aqui exposto, pensar que ensinar língua não é um ato político, um ato libertador, um ato de distribuição de ‘renda’. Não falo de uma renda monetária, mas de uma renda cultural – certamente ainda mais importante que a outra.







quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

REFLEXÕES SOBRE A LINGUAGEM



 REFLEXÕES SOBRE A LINGUAGEM
NOAM CHOMSKY




Chomsky representa, no universo dos estudos linguísticos, ao mesmo tempo um rompimento com o estruturalismo saussureano e com o behaviorismo de Skinner. Embora mantenha, como Saussure, sua atenção voltada ao sistema, Chomsky difere deste ao entender que, antes de ser social, a língua é um elemento individual, no sentido em que se trata de uma capacidade inata do homem.
Ele propõe, ainda, por meio do gerativismo, a ideia de que a partir de um finito número de regras, o falante forma infinitas sentenças. Nesse sentido, o linguista rompe com o behaviorismo, corrente para a qual a língua é aprendida/adquirida por meio do estímulo aplicado a um comportamento esperado. Para o behaviorismo, a língua é um ‘acidente’, isto é, a criança balbucia sons sem significado algum, no meio desses sons, alguns se assemelham a palavras. Ao ouvirem seus filhos balbuciarem tais sons, os pais acreditam ouvir palavras e, a partir disso, passam a estimular seus filhos que, por resposta a um estímulo, começam a repetir tais ‘palavras’ e, então, a falar.
A teoria behaviorista é posta em xeque quando Chomsky comprova que a criança produz muito mais do que ouve. Uma criança, desde a mais tenra idade, é capaz de produzir enunciados que nunca ouviu, fato que evidencia o caráter criativo da linguagem humana. Em decorrência disso, o pesquisador passa a afirmar que a língua é uma capacidade inata do homem, isto é, o homem nasce com o mecanismo linguístico pronto e vai se adaptar à língua falada em seu meio.
Difícil foi para Chomsky comprovar sua tese. Não se pode negá-la, é verdade, entretanto, tampouco podemos prová-la sem que restem dúvidas. Recentemente parece ter sido isolado um gene que seria, possivelmente, o responsável pela linguagem (MARTELOTTA, 2010). Mas tudo ainda é especulação.
Diante da impossibilidade de provar com base na genética o caráter inato da linguagem humana, Chomsky buscou outros recursos. Sua investigação o levou a desenvolver a teoria da Gramática Universal. Segundo essa teoria, há princípios gramaticais que são encontrados em todas as línguas conhecidas. Sem dúvida, há determinados elementos que são recorrentes nas mais variadas línguas, como a capacidade de dar nome às coisas, de indicar a passagem do tempo ou de se fazer referência a algo dito anteriormente, por exemplo. Essa constatação vem reforçar a ideia de que a linguagem é algo inato ao homem.
É inegável a importância de Chomsky para a Linguística. Se há uma falha em seu trabalho que mereça ser apontada ela diz respeito ao desprezo do cientista para com o uso da língua. Chomsky, assim como Saussure, manteve o foco de seus estudos no sistema, na langue (em termos saussureanos) e não no uso (parole). Com o movimento que se chamou de virada pragmática, percebeu-se que estudar a abstração sistêmica a fundo só pode ter como resultados teorias também abstratas que pouco ou nada dizem sobre os sentidos emergentes nas interações sociais. De que adianta entender só o sistema se o uso cotidiano o reinventa a todo instante?
Numa disputa entre Semântica e Pragmática na constituição dos sentidos, penso que ambas perdem se isoladas e só têm a ganhar se unidas. Não é possível pensar apenas de modo sistemático, entretanto, não se pode, também, renegar completamente o sistema. Existe, inegavelmente, um significado ‘neutro’ para as palavras e sentenças, um significado, digamos, livre das nuances do contexto. Esse significado, entretanto, para ganhar sentido, precisa ser efetivado numa situação real de uso, ganhando, em decorrência disso, peculiaridades novas, sutilezas invisíveis ao olho do sistema.
Quantos sentidos há em um simples “a porta está aberta”. É uma permissão para entrar em um recinto? Um pedido para que alguém feche a porta? Uma ordem para que alguém se retire? Ou uma observação de que alguém se esqueceu de fechar a porta? Os sentidos só são efetivados no uso real da língua. Não podemos, entretanto, negar que todos os possíveis sentidos acima elencados partem dos conceitos de ‘porta’ e de ‘aberta’ – sem os quais, não se teria entendimento algum.


BIBLIOGRAFIA

CHOMSKY, N. Reflexões sobre a linguagem. São Paulo: JSN, 2009.
MARTELOTTA, M. E. (org.) Manual de Linguística. São Paulo: Contexto, 2010.








domingo, 7 de julho de 2013

REPRESENTAÇÃO SOCIAL – PAPÉIS SOCIAIS






                Na busca por uma metáfora que bem traduza as complexas relações sociais estabelecidas pelo homem do seu nascimento ao seu atestado de óbito nada parece mais propício que pensar num palco com sua grande cortina vermelha, sua iluminação, seu cenário, seus atores em cena, um diretor, uma campainha avisando o início da ação, um roteiro a ser seguido com papéis sendo assumidos e interpretados e, o mais importante, uma plateia: o outro. O outro que nos constitui, que nos fornece tudo aquilo que não somos, para, a partir disso, tornarmo-nos, enfim, o que somos. Esta ideia, que Bakhtin chama de alteridade é que nos fornece o princípio formador de nossa identidade. Em outras palavras, sabemos quem somos a partir de quem não somos – não somos o outro e é nessa negação do outro que nos  formamos como sujeitos.
                E o palco satisfaz plenamente o jogo social que se estabelece na formação da identidade do sujeito, uma vez que este jogo é, na verdade, uma grande encenação. O homem, em seu processo de autoconstrução vai se moldando ao que a sociedade espera dele. Sociedade é este conceito bastante abstrato e complexo que diz respeito a algo que preexiste a nós e continuará aqui quando nossa lembrança já estiver esquecida. Ela existe, simplesmente, e dita regras, estabelece costumes, discrimina maneiras de se comportar, hierarquiza pessoas e carreiras, define padrões e exclui aqueles que, de alguma forma, não se encaixam nesses aspectos. Ser um excluído social, um pária é, talvez, o maior medo de todos nós. E para fugir disso o homem vai se vestindo deste outro homem, deste personagem social: o homem do palco. Sob as luzes da ribalta, o homem, então, exerce o seu papel, melhor, os seus papéis, porque são muitos os papéis que este homem social deve ter e em cada um deles, espera-se um desempenho exemplar. E vai o homem dividindo-se e multiplicando-se em tantos quantos forem seus papéis: pai, filho, irmão, vizinho, cunhado, empregado, chefe, freguês, religioso, assinante, telespectador, estudante, amigo, colega de trabalho, rival, sócio, amante.
                Para ser bem avaliado socialmente, alguns papéis precisam ser vividos de forma especial, digamos. O homem social não pode ser tudo o que quer quando, onde, como e com quem quer. Não. O homem social segue as regras do jogo. Segue as ordens de um diretor que ele nem conhece. Segue o roteiro escrito por alguém que ele também não conhece. E neste roteiro, alguns papéis são mais bem vistos que outros. Assim, é melhor que ele seja bem sucedido profissionalmente, é melhor que ele acorde cedo e seja trabalhador, é melhor que ele se mostre intelectual, que ele se apresente como alguém inteligente, de preferência branco e heterossexual. De preferência religioso, magro, alto, destro, bonito, jovem, sem deficiência física ou intelectual. Ainda é de bom tom que ele seja educado, que não use gírias ao falar, que não fale palavrões, que se vista de forma discreta, evitando excesso de cores, piercings, tatuagens e outras excentricidades. Nosso personagem precisa, enfim, estar sempre pronto a encaixar-se em qualquer papel, para isso tem de ser o mais neutro possível, o mais sem personalidade possível, para ser mais exato. Aliás, o ideal é que ele seja um personagem sem personalidade alguma.
                Saltando de uma metáfora a outra, o que temos são pessoas inéditas tentando se encaixar em casas pré-fabricadas e, em nome disso, vão negando a si mesmas. De tempos em tempos, no entanto, encontramos alguns que não se conformam (nem se enformam) e são chamados de loucos ou de inválidos. Depois, os anos, muitas vezes, vão mostrar que esses loucos e inválidos só estavam, na verdade, é criando suas próprias casas, em vez de aceitarem, passivamente, as que lhe entregaram ao nascerem para morar.
Loucos são os outros, os que querem ser normais.
               
E para finalizar, atrevo-me a uma rápida loucura: trazer dois textos menos formais e mais literários – ainda que bem dentro do assunto.

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Quem se constrói apenas com os tijolos que lhe deram está condenado a viver, para sempre, em cômodos pequenos. Mas Quem inventa os próprios tijolos faz de si um castelo. (Leandro Luz – “Por tudo aquilo que o tempo não cura” – no prelo)


PELO BEM DA FAMÍLIA BRASILEIRA
Está lá dentro há mais de dez horas. O outro já faz três semanas. E o primeiro, há dois meses.
Até agora nenhum avanço.
Já tentaram choque? Fogo nos pés? 
já tentaram quebrar as pernas? Furar os olhos? 
Sim,
Tudo
E?
Nada.
Nada?
Sim, nada.
Os três insistem em continuar sendo canhotos. 
Então, cortem o braço e a perna esquerdos.
Senhor, já cortamos o braço e a perna esquerdos do primeiro.
E então?
Ele deixou de ser canhoto, é verdade...
Ótimo.

Sim. Mas não se tornou destro.
Agora ele não é nada.
Que seja,
Melhor assim.
Antes termos um nada entre nós do que um canhoto.








quarta-feira, 3 de julho de 2013

LEITURA: DO TEXTO AO HIPERTEXTO






A leitura acompanha o homem desde que o homem habita este planeta. Numa acepção ampla, ler significa apreender elementos ou estímulos externos e processá-los de modo a construir, a partir deles, sentidos. Pensando assim, o homem primitivo, para sobreviver, precisou ler a natureza hostil em que habitava. O homem antigo precisou ler o inimigo para sobreviver às guerras e manter seus territórios. O homem medieval precisou ler a terra para dela tirar seu sustento e, por outro lado, acabou sendo impedido de ler (e agora falo de um sentido mais restrito) para fins de adquirir conhecimento se quisesse continuar vivo. O homem moderno precisou ler o próprio homem para se fazer moderno. E o homem contemporâneo precisa ler o virtual, o espaço, o hiperespaço para ir além do próprio homem.
            O fato é que nunca na História da Humanidade a leitura e a escrita estiveram tão ao alcance de todos como hoje. Nunca antes o homem pôde dispor dessas duas armas de guerra, dessas duas ferramentas de trabalho, dessas duas tecnologias de desenvolvimento como faz de forma até banal atualmente. Esse fenômeno tem a sua própria historicidade em tem seus dois lados – positivo e negativo – como qualquer outro fenômeno humano.
            O lado positivo está no livre acesso de todos ao mundo das palavras escritas, antes um privilégio de poucos. Sabemos que a escrita e a leitura sempre significaram uma importante fronteira entre quem detinha ou não o poder. Por outro lado, toda essa democratização levou a uma banalização da informação e, consequentemente, do conhecimento. Confundem-se, na verdade, esses dois conceitos. Informação é o dado por si, ao passo que conhecimento é o dado transformado pela ação do homem. Para haver conhecimento, é necessário que o homem o construa; que o homem, em outras palavras, execute uma ação, desenvolva um processo que parte, sem dúvida da informação, mas que a extrapola. O mundo atual parece parar na informação, parece satisfazer-se com ela, uma vez que se tornou tão fácil alcança-la.
            Ao falar de construção de conhecimento como processo ativo que decorre da intervenção do homem na informação disponível, estou, na verdade, trazendo à tona os conceitos de inter e hiperdiscurso. O primeiro diz respeito, exatamente, a esta teia de sentidos que se vai elaborando à medida que se vai costurando textos diversos na tentativa de se construir conhecimento. Aproximo-me da noção de dialogismo proposta por Bakhtin. O segundo conceito, o de hiperdiscurso, diz respeito ao movimento do interdiscurso no hiperespaço. É o hiperdiscurso que garante que o hipertexto mantenha os fatores de textualidade propostos por Beaugrande e Dressler, a saber: coesão, coerência, informatividade, aceitabilidade, intencionalidade, situacionalidade, intertextualidade. Por algum tempo defendeu-se que o texto para ser texto precisava possuir, necessariamente, esses fatores; hoje, entretanto, já não se pensa assim, mas ainda se admite a importância desses aspectos no estudo da textualidade. Sendo textualidade a unidade semântica, estrutural (linguística), discursiva e pragmática de um texto, ela não deixa, de maneira alguma, de existir no hiperespaço. Em outras palavras, o hipertexto também é dotado de textualidade ou se preferirmos, de hipertextualidade.
O hiperdiscurso pode ser entendido como o caminho digital ou virtual que o leitor vai construindo em sua leitura no hiperespaço. Seria o mapa da sua navegação, mas não um mapa previamente desenhado, que ele deve seguir; e sim o mapa que ele mesmo vai desenhando conforme vai navegando e descobrindo novos mares.
            Mesmo diante das infinitas possibilidades que o hiperespaço abre, o leitor faz escolhas que seguem uma orientação não aleatória, mas guiada por uma intenção e uma situação que são inter e hiperdiscursivas; inter, pois resultam de múltiplas combinações discursivas dialogando entre si e hiper porque tais combinações e diálogos se dão no hiperespaço. Ainda pensando nos fatores de textualidade, é possível perceber que o leitor, para de um link abrir um novo (hiper)texto , precisa estar dotado de determinada carga informativa. O que quero dizer é que para fazer os saltos de um texto a outro – movimento típico no hiperespaço – o leitor precisa ter certo grau de informatividade, ou seja, ele só clica no link se encontrou a informação que queria ou a dúvida, o questionamento que lhe instigou. De qualquer forma, o aspecto informatividade (seja por sua satisfação ou por sua falta) está relacionado com o ato de clicar no link que levará o leitor a um novo (hiper)texto. Este novo (hiper)texto pode se mostrar, por sua vez, aceitável ou não aos interesses do leitor, pois embora o link seja o mesmo, o inter/hiperdiscurso construído para cada navegação é único e a cada nova leitura é um novo significado sendo criado para o (hiper)texto que se abre e nem sempre ele satisfará o leitor. Aceitável ou não neste novo cenário (hiperespaço) tem a ver com o hiperdiscurso em construção e não com regras pré-estabelecidas (gramaticais, por exemplo). Finalmente, o fator intertextualidade dispensa grandes elucubrações, pois a noção de intertexto está no cerne da própria existência do hipertexto e do hiperdiscurso. Não haveria hiperdiscurso se não houvesse intertextualidade, ou seja, se os textos não tivessem a capacidade inerente de dialogarem entre si não seria possível pensar em um “hiperdiálogo” universal entre texto ad infinitum que é o que acontece no hiperespaço.
            Nem tudo que parece novo é, de fato, tão novo assim.
O homem muda a tecnologia que muda o homem que se adapta a ela que o muda novamente e assim por diante. O homem vai transformando seu meio ao mesmo tempo que vai sendo por ele transformado e tem sido assim desde sempre. Mas alguns princípios permanecem. Dizer que o hiperdiscurso é que constrói as pontes que ligam os sentidos do hipertexto é para os dias de hoje o que foi há algum tempo dizer que o discurso é que construía as pontes dos sentidos do texto. Ampliou-se o alcance da mão do homem, do seu olhar e do seu pensamento. Ampliou-se muito a sua capacidade de entendimento do universo macro e microscópico. Mas o hipertexto não é, absolutamente, uma invenção nova. A intertextualidade existia antes da internet. O que a internet fez foi facilitar o diálogo entre os textos, foi acelerar as conexões, foi dinamizar os contatos. Não inventou, apenas aperfeiçoou. O hiperespaço estava lá o tempo todo só esperando para ser explorado, do mesmo modo que a América sempre esteve aqui, o tempo todo, só esperando ser explorada e não inventada. Isso não diminui o mérito do descobridor, só coloca as coisas em seu devido lugar. Não podemos, em nome de um tecnologismo quase patológico, esquecer todo o esforço que antecedeu o que vivemos hoje. Milhares de pesquisadores escreveram suas teses em máquinas de escrever, amassando centenas e centenas de folhas de sulfite para que eu, hoje, possa, simplesmente, apertar uma tecla e corrigir um erro na tela do computador – isso não pode ser desprezado. Esses mesmos pesquisadores iam às bibliotecas e faziam saltos de um a outro livro, liam notas de rodapé, analisavam sumários, faziam, em outras palavras uso do hiperdiscurso, do mesmo jeito que eu hoje faço; obviamente com menos recurso, com menos velocidade, limitados ao espaço físico. Hoje eu executo o mesmo processo, mas com o universo inteiro ao meu dispor, com a liberdade do infinito, com o hiperespaço todo para explorar e tudo isso a um click de distância.
Assustador e maravilhoso.







quinta-feira, 23 de maio de 2013

PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS DA HISTÓRIA DA LÍNGUA - HERMANN PAUL


Resenha do capítulo XXI - Língua falada e escrita


PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS DA HISTÓRIA DA LÍNGUA
HERMANN PAUL

Cap. XXI – LÍNGUA FALADA E ESCRITA



         No capítulo XXI, Hermann Paul discute a relação entre língua falada e língua escrita. Meu objeto de estudo no doutorado é a língua escrita, especificamente a leitura do texto escrito, por isso a escolha de falar sobre este capítulo.
         O autor abre o capítulo atribuindo à escrita o papel de registrar as mudanças históricas da língua. Ele traça, ainda no primeiro parágrafo do capítulo, duas importantes considerações sobre a escrita: primeiro que ela é uma conversão (não se escreve a língua propriamente dita, mas uma conversão desta para a escrita); segundo que esta conversão é incompleta.
         Ao falar das vantagens da escrita, Paul reafirma seu caráter duradouro em contraste com a efemeridade da fala, além de seu caráter expansivo, isto é, a escrita expande a área de comunicação para muito além da interação face a face.
         Era recorrente em seu tempo a preocupação em estabelecer os limites de registro entre a fala e a escrita. Paul enfatiza a incapacidade de equivalência entre os sons da língua e sua grafia. Hoje, entretanto, esta discussão soa irrelevante, posto que tal discrepância já é sabida  e aceita por todos. Já se sabe, inclusive, que não é papel da escrita tentar copiar fielmente os sons da fala, o que seria impossível e inútil.
 O autor parece sinalizar que a mesma arbitrariedade apontada por Saussure para a constituição do signo também se aplica à escrita quando ele afirma que “na fixação pela escrita da maioria das línguas, não se sentiu a necessidade de empregar um símbolo especial para a nasal gutural e palatal, mas empregou-se para elas o mesmo” (pg. 395). Observe que o autor fala em sentir ou não a necessidade de registro. Há, portanto, um caráter arbitrário e consensual na grafia das palavras e não uma tentativa de cópia da fala. Outro aspecto levantado pelo autor diz respeito ao fato de que as línguas não tiveram seus alfabetos criados para satisfazerem suas necessidades, mas tiveram, antes, alfabetos adaptados de outras línguas. Soma-se a isso o fato de que às línguas podem ser acrescidos elementos semânticos novos que requerem novos recursos fônicos e escritos para seu registro.
Paul faz uma analogia entre fala e escrita com uma obra e seu esboço. Para o autor, a escrita é o esboço que garante que a fala se mantenha ou se transforme. Concordo apenas parcialmente com esta analogia, uma vez que já sabemos que fala e escrita não têm, necessariamente, nenhuma conexão, principalmente quando alcançamos o nível textual em situações de interação real.
Outra característica da escrita evidenciada pelo autor é que ela acaba carregando menos elementos dialetais que a fala. Por este motivo, a escrita e não a fala é mais útil à compreensão nas relações em grande escala, por outro lado isso reforça sua incapacidade de influir na fala. 
Vale, ainda, corroborar a ideia proposta pelo autor de que é na escrita que mais fortemente se manifesta a influência da etimologia. Sem dúvida, percebemos que, na maioria das vezes, só somos capazes de explicar determinada grafia a partir do levantamento histórico da palavra. Um bom exemplo em português é o caso de ‘pedestre’, por que não ‘pestre’, já que ele anda a pé? Porque sabemos que, em Latim, havia a palavra ‘pede’ e daí temos a palavra ‘pedestre’ usada hoje.
O capítulo trata da relação entre fala e escrita apenas do ponto de vista do registro do som e não do uso da língua, aliás, como todo o resto do livro. Sabemos hoje que, na investigação da relação entre oralidade e escrita, devemos levar em consideração as situações de uso, bem como a interação entre os interlocutores, suas intenções, o suporte de tal comunicação, o gênero. Escrita e fala, como sugere Marcuschi, formam um continuum na comunicação humana. Não há o estabelecimento de fronteiras estanques, mas sim, de fronteiras (quando há) flexíveis e maleáveis. O advento da internet tornou esse continuum ainda mais fluídico, afinal, o MSN é produção escrita ou é uma fala que foi transcrita?
De modo geral, penso que o livro tem um valor histórico importante, mas em muitos aspectos se encontra ultrapassado. Vale, obviamente, como observação de como as ideias linguísticas evoluíram ao longo do tempo e de como nada, segundo Bakhtin (1997), nasce do vazio. O discurso é sempre dialógico em constante interação com outros discursos.



Referência

BAKHTIN, M. Estética da criação verbal. Tradução feita a partir do Francês por Maria E. Galvão G. Pereira. São Paulo: Martins Fontes, 2ª. Ed.,1997.
MARCUSCHI, L. A. Da fala para a escrita: atividades de retextualização. São Paulo: Cortez, 2001.



OBRA
PAUL, H. Princípios fundamentais da História da Língua. São Paulo: Fundação Calouste Gulbenkian, 1983




terça-feira, 14 de maio de 2013

A Pequena Fábula de Franz Kafka: análise de um gênero discursivo na perspectiva bakhtiniana


A Pequena Fábula de Franz Kafka: 
análise de um gênero discursivo na perspectiva bakhtiniana



ABSTRACT: this research intends, according to Bakthinian theories of utterance, to analyze the text “Small fable” from Franz Kafka. It’s necessary, thus, a very careful observation of the genre to which the utterance belongs, besides the analyses of the constitutive elements of this utterance/genre, as well as the communicative sphere to which this genre belongs.

KEY WORDS: Dialogism; discourse; fable


0- INTRODUÇÃO
Diversos têm sido os estudos sobre a obra de Franz Kafka, e certamente sob variadas perspectivas teóricas. Entretanto, ainda que amplamente estudada, retomar a obra de Kafka como objeto de um estudo (tema) significa sempre um novo processo de enunciação, uma nova visão teórico-analítica, capaz não de extenuar por completo o objeto, mas de tematizá-lo de forma a, pelo menos relativamente, esgota-lo, pois segundo Bakhtin (1997, p. 300):

Teoricamente, o objeto é inesgotável, porém, quando se torna tema de um enunciado (de uma obra científica, por exemplo), recebe um acabamento relativo, em condições determinadas, em função de uma abordagem do problema, do material, dos objetivos por atingir, ou seja, desde o início ele estará dentro dos limites de um intuito definido pelo autor.

Observando a afirmação de Bakhtin e diante do objeto de estudo aqui proposto, posso afirmar que esta análise possui uma abordagem enunciativa do problema, ou seja, uma abordagem segundo a qual a análise se faz, considerando o uso da língua numa situação concreta de comunicação. A enunciação, segundo Machado (1995, p. 67), consiste na “unidade real do discurso comunicativo dotado de uma determinada forma genérica que nos é dada livremente, no uso corrente da língua materna que adquirimos antes mesmo dos estudos teóricos de gramática”.
                Ainda em relação ao tratamento do objeto aqui tematizado, devo atentar, como afirma Bakhtin, para a questão dos objetivos. Assim, este trabalho possui o objetivo de tecer uma análise do texto “Pequena Fábula” de Franz Kafka, tomando como base teórica, a noção de dialogismo, amplamente presente na teoria bakhtiniana. Stam (1992, p. 72), ao falar de dialogismo, afirma que “no sentido mais amplo, o dialogismo se refere às possibilidades abertas e infinitas geradas por todas as práticas discursivas de uma cultura, toda a matriz de enunciados comunicativos onde se situa um dado enunciado”.
                É preciso, desse modo, considerar quais são as características desse dialogismo que servirão de base de raciocínio na análise aqui proposta. Stam (1992, p 76), ao citar exemplos desse dialogismo, fornece os parâmetros adotados nessa análise, sendo eles: “discurso polifônico, polêmica interna oculta, autobiografia polêmica, confissão, discurso que olha de lado e réplica sarcástica”.
                Fica assim definido o objeto de estudo deste trabalho/enunciado. Não busco, de forma alguma, qualquer tipo de esgotamento do objeto, o que seria, como já foi citado anteriormente, inviável. Objetivo apenas realizar uma análise das características intrínsecas ao dialogismo bakhtiniano presentes no texto/enunciado de Franz Kafka.

1.       FRANZ KAFKA: UM FABULADOR MODERNO
Anders (1969, p. 16) questiona a visão onírica e exótica com que alguns críticos têm falado da obra de Kafka, segundo ele “Kafka não é esteticista, santo ou sonhador, nem forjador de mitos ou simbolista – pelo menos nada disso em primeiro plano: é um fabulador realista”.
Pensar num Kafka “fabulador realista” parece estranho: afinal, pode um fabulador ser realista? Não seria próprio da fábula o avesso da realidade? A troca de papéis? Se a fábula caracteriza-se essencialmente pelo humano e o não-humano em confronto numa realidade onde animais falam, pensam, sentem; é possível, assim, ser fabulador e ser realista?
Na verdade, segundo Anders (1969, p. 17), “o método de Kafka consiste, pois, em suspender através da troca de etiquetas, os preconceitos ligados a etiquetas, possibilitando, com isso, julgamentos não preconcebidos”. Assim, a fábula em Kafka soa como um instrumento, uma ferramenta para corromper preconceitos, para renomear coisas e situações, para provocar estranhamento. Ainda segundo Anders (1969, p. 17)

Em Kafka, o inquietante não são os objetos nem as ocorrências, mas o fato de que as criaturas reagem a eles descontraídamente, como se estivessem diante de objetos e acontecimentos normais. Não é a circunstância de Gregor Samsa acordar de manhã transformado em barata, mas o fato de não ver nisso nada de surpreendente – a trivialidade do grotesco – que torna a leitura aterrorizante (...) De fato, nada é mais espantoso do que a fleuma e a inocência com que Kafka entra nas estórias mais incríveis.
       
Eis o espantoso e contraditório em Kafka, ser fabulador e ser realista ao mesmo tempo. Em “Pequena fábula” não é o fato do rato dialogar com o gato que provoca o estranhamento, mas sim, o tratamento realista, natural, quase cotidiano que o discurso possui. “O herói não pertence ao mundo. É justamente nessa ex-centricidade que consiste o realismo kafkiano” (ANDERS, 1969: 27). Todo esse tratamento do tema, em Kafka, não é, de forma alguma, despretensioso, pelo contrário, está repleto de intenções; Anders (1969, p 21) afirma que: “Se Kafka deseja afirmar que o ‘natural’ e ‘não-espantoso’ de nosso mundo é pavoroso, então ele faz uma inversão: o pavor não é espantoso”.
Este estranho método de estranhamento (com todo o direito de ser repetitivo) de Kafka se deve em parte à sua própria história, sua própria personalidade, a esse respeito Anders (1969, p 23) expõe que Kafka

Como judeu, não pertencia totalmente ao mundo cristão. Como judeu indiferente – pois foi-o a princípio, não se integrava completamente com os judeus. Por falar alemão, não se amoldava inteiramente aos tchecos. Como judeu de língua alemã, não se incorporava de todo aos alemães da Boêmia. Como boêmio, não pertencia integralmente à Áustria. Como funcionário público de uma companhia de seguros de trabalhadores, não se enquadrava por completo na burguesia. Como filho de burguês, não se adaptava de vez ao operariado.

                Uma personalidade tão particularmente dotada de antagonismos não poderia ter produzido uma literatura menos antagônica, contraditória, polêmica.
                No prefácio da obra “Nas Galerias”, coletânea de contos e fábulas, de onde retirei “Pequena fábula”, Flávio R. Kothe ( 1989) afirma que  o que se tem de lugar-comum nesse tipo de fábula é que o mais fraco (no caso o camundongo) saia vitorioso. Kafka, ao inverter os papéis e subverter as expectativas do leitor, provoca, polemiza, cria o conflito. Na verdade, precisamos pensar o que representa social e politicamente a vitória do fraco nas fábulas. Existe uma espécie de compensação, ou de ilusão de que um dia a ordem socioeconômica irá se inverter, que os dominados finalmente tomarão o poder, essa é a ideologia existente por trás das inocentes fábulas; o que elas pregam é que não há porque se preocupar, fazer rebeliões, greves, motins; no fim, o pobre, o fraco, o submisso e dominado há de receber sua recompensa (mesmo que seja no paraíso segundo o pensamento cristão). Kafka, entretanto, por tudo que já foi dito, não poderia concordar e contribuir para a disseminação de uma ideologia irreal, por isso, rompe com o que se espera, e propõe uma ordem real das coisas, onde os dominantes exercem seu poder e os dominados são esmagados, a menos que mudem seu caminho. O estranho e irônico é que esse novo caminho é, uma vez mais, proposto pelo dominante: “Você apenas precisava alterar a direção da corrida – disse o gato, e devorou-o”.

2.       FÁBULA: UM GÊNERO SECUNDÁRIO
Adotar um caráter bakhtiniano de análise significa estender o olhar além do meramente textual, implica observar aspectos referentes ao gênero escolhido, às características desse gênero (construção composicional, conteúdo temático e estilo segundo Bakhtin) e sua operacionalização. Antes de falar do gênero fábula, entretanto, quero observar alguns elementos importantes em relação ao processo narrativo de produzir discurso. A esse respeito, Araújo afirma que

A situação de enunciação apresenta problemas peculiares, quando se trata de estudar o discurso literário. Os elementos que definem a situação de enunciação comum – um enunciador, um destinatário, um momento e um lugar particulares – revestem-se de máscaras apropriadas ao jogo de cena literária.

                O discurso literário foi o objeto central de estudo de Bakhtin, mais precisamente o gênero romance. Foi estudando o romance que Bakhtin tratou da questão dos gêneros, do enunciado concreto, do estilo, do tema, da expressividade enfim, de uma série de conceitos relacionados ao texto e ao discurso; essa discriminação aqui realizada entre texto e discurso tem base no que postula Marcuschi (2003, p. 24), segundo o autor: “Texto é uma entidade concreta realizada materialmente e corporificada em algum gênero textual. Discurso é aquilo que um texto produz ao se manifestar em alguma instancia discursiva”.
                Ao tratar dos gêneros, especificamente, Bakhtin (1997) faz uma distinção entre gêneros primários (de elaboração simples, cotidiana) e gêneros secundários, que, segundo o autor, surgem numa situação de comunicação mais complexa e relativamente mais evoluída, principalmente na escrita.
                Os gêneros literários, dentre eles, a fábula, fazem parte dos chamados gêneros secundários que, ainda segundo Bakhtin (1997, p. 281), durante o processo de formação “absorvem e transmutam os gêneros primários (simples) de todas as espécies, que se constituíram em circunstancias de uma comunicação verbal espontânea”. Assim, por exemplo, quando um texto narrativo (gênero secundário) faz uso de réplicas do diálogo (gênero primário), reestrutura esse gênero, inserindo-o numa nova enunciação, como forma de citação (discurso de outrem), vale lembrar o que Bakhtin fala sobre citação em Marxismo e filosofia da linguagem, segundo o autor “o discurso citado é o discurso no discurso, a enunciação na enunciação, mas é, ao mesmo tempo, um discurso sobre o discurso, uma enunciação sobre a enunciação” (1995 p. 144).
Em “Pequena fábula” o que encontramos é exatamente a réplica de um diálogo cotidiano entre um camundongo e um gato, tratado - como próprio do estilo kafkiano - o mais naturalmente possível. Aqui, as falas dos animais, cada uma com seu tema próprio, tornam-se tema para o enunciado maior: a fábula de Kafka que, insere-se por sua vez, no diálogo humano e social, no qual encontramos outros discursos literários ou não. Assim, como diz Souza (1999, p. 113) “o discurso citado é um tema do nosso discurso. Enquanto um enunciado citado, ele apresenta o seu próprio tema, e assim integra o contexto do discurso do autor – o nosso discurso”.
                Não cabe aqui nenhuma espécie de tratamento tipológico ou estruturalista da narração, mas sim, uma rápida exposição do pensamento bakhtiniano em relação ao gênero secundário, no qual se insere a fábula, objeto deste estudo. Entretanto, acredito que vale uma rápida observação de algumas características do gênero fábula que certamente contribuirão para esta análise.

3.       FÁBULA
Dentre os inúmeros gêneros literários existentes, a fábula está entre os mais antigos. Segundo Coelho (1997, p. 147), a fábula é

Nascida no Oriente, a fábula vai ser reinventada no Ocidente pelo grego Esopo (séc VI a.C.) e aperfeiçoada séculos mais tarde pelo escravo romano Fedro (séc. I a.C.), que a enriqueceu estilisticamente. No séc. XVI, ela foi descoberta e reinventada pó Leonardo da Vinci (mas sem grande repercussão fora da Itália e ignorada até bem pouco tempo). No séc. XVII, La Fontaine reinventou a ‘fábula’ (a partir do modelo latino e do oriental oferecido pelos textos do indiano Pilpay), introduzindo-a definitivamente na literatura ocidental

                Uma característica essencial da fábula é a atribuição de qualidades humanas a animais, para Coelho (1997, p.148) “a peculiaridade que distingue a fábula das demais espécies metafóricas ou simbólicas é a presença do animal, colocado em situação humana e exemplar”, os personagens são assim, “símbolos, isto é, representam algo num contexto universal (por exemplo: o leão, símbolo da força, majestade, poder; a raposa, símbolo da astúcia; o lobo, do poder despótico etc)” (COELHO, 19997, p. 148).
                Por trás da aparente inocência da fábula, há sempre um caráter crítico, além de uma lição de moral, como sugere Góes (1984, p. 144)

A fábula é uma forma literária indireta na exposição de sua expressão, de caráter geralmente crítico, de análise precisa e tradução sintética dos fatos que são tanto objetivos quanto eloqüentes para o entendimento. Transmite a crítica ou conhecimento em forma impessoal, sem tocar ou localizar claramente o fato ou a personagem

O que se percebe é uma certa tendência a amenizar ou mascarar a voz (crítica) do autor por meio do uso de elementos como animais que já possuem uma forte carga semântica, por exemplo, a raposa, que já carrega em si o estigma de ser astuta, esperta, traiçoeira. Assim, ao invés do autor dirigir uma crítica direta à determinada conduta social, a alguém ou a algum grupo que age de forma, digamos, desonesta, ele o faz utilizando a figura da raposa. Desse modo, o autor utiliza uma outra voz para expressar sua crítica e se exime, de certa forma, da responsabilidade por isso, afinal, não foi ele quem disse primeiramente que a raposa é astuta ou desonesta, essa característica já existe num espaço de conhecimento social comum. Percebe-se aqui a forte presença do caráter polifônico do discurso e do dialogismo bakhtiniano: o autor que utiliza a figura da raposa em seu discurso dialoga, na verdade, com todo um conhecimento social adquirido ao longo de gerações e, ao atribuir fala e atitude humanas à raposa, ele a faz dialogar de dentro do texto com o universo exterior que ela representa.
                Um outro aspecto importante a ser levantado em relação ao gênero fábula é a questão da moral, principalmente porque as crianças estão em processo de construção de identidade e, para isso, estão armazenando informações de toda espécie: éticas, morais, familiares, valores enfim que carregarão consigo para sempre. Burgess (2001, p. 09) diz que “um valor é algo que alça nossas vidas acima do nível puramente animal – o nível de conseguir comida e bebida, fazer filhos, dormir e morrer”. 
                Nesse sentido, é de essencial importância levar em consideração o que Bakhtin (1997) chama de “atitude responsiva ativa”, ou seja, devemos estar conscientes de que as crianças, ao lerem, não são sujeitos passivos que recebem as informações exatamente da maneira que o enunciador as concebeu. As crianças interagem com o discurso de forma ativa, criando seus próprios significados, significados esses que são resultado de suas experiências de vida, do diálogo com outros textos, de suas crenças pessoais e de outras influências externas (família, escola, amigos etc). Assim, é importante evitar mensagens duplas, ambíguas, que possam gerar conflito ou dupla interpretação. Sabemos que é próprio do discurso literário ser ambíguo, polifônico, complexo, entretanto, como nos lembra Bakhtin (1997), dominar determinado gênero discursivo implica conhecer os elementos constitutivos desse gênero, dentre esses, a quem se destina tal gênero.  Góes (1984, p. 148), a esse respeito, afirma que as fábulas


Devem reunir um mínimo de condições que não permitam confusões interpretativas naquilo que pretendem ensinar; conceito claro e objetivo, sobriedade narrativa; linguagem depurada de toda terminologia vaga, abstrata, inaccessível à criança.

                “Tom e Jerry”, personagens de desenhos animados, são exemplos disso. Inegavelmente as crianças torcem pelo ratinho, certamente por identificação, o ratinho é menor que o gato (que pode representar o adulto que repreende, que corrige, que persegue), é mais frágil, é mais esperto enfim, assemelha-se mais ao mundo infantil do que o gato. O que as crianças não sabem é que o rato transmite doenças, que é sujo e que, numa visão mais naturalista, dentro da cadeia alimentar, é presa do gato que é o predador e, só faz, seguir seus instintos naturais de sobrevivência. Todos nós, seres carnívoros, alimentamo-nos de seres que matamos, então somos seguramente todos muito cruéis. Não penso que as crianças deveriam odiar o rato e querer seu fim, mas questiono somente os conceitos e preconceitos que estão embutidos nas fábulas em geral.
                Kafka, como já foi dito, rompe com essas idéias fossilizadas a respeito de predadores e presas nas histórias infantis, inverte o fluxo ideológico e permite que o camundongo seja devorado pelo gato, assim, os papéis do estúpido e do esperto invertem-se. O efeito que se tem é de estranhamento em princípio, e de realismo concreto, traços característicos das fábulas kafkianas.

4. DIALOGISMO EM “PEQUENA FÁBULA”
                Fazer uma análise científica de uma obra literária significa situar-me na delicada fronteira de dois discursos, bem como de dois papéis. Falo exatamente do discurso técnico e do discurso artístico e dos papéis de leitor e de analista. Burgess (2001) fala desse tênue limiar entre ciência e arte como se tratando de duas possíveis leituras de uma mesma verdade. O artista e o cientista percebem o mundo e as coisas nele de forma diferente, mas a verdade é uma só, que segundo Burgess (2001, p. 09) é um espetáculo

Que está por trás de um espetáculo exterior (...) O sol se levanta a leste e se põe a oeste. Isso é o que vemos, isso é o “espetáculo exterior”. No passado, o espetáculo exterior era visto como a verdade. Mas então veio um cientista para questiona-lo e enunciar em seguida que a verdade era muito diferente da aparência: a verdade era que a Terra girava e o Sol permanecia imóvel – o espetáculo exterior estava dizendo uma mentira.

Não quero, entretanto, deixar de pensar que todo esse buscar a verdade está carregado de beleza e arte. No fundo, cientista e artista buscam a mesma coisa: a beleza da verdade universal, cada um a seu modo, com seu olhar e sua arte-ciência.
Como já foi dito anteriormente, quero buscar em Stam (1992) os parâmetros norteadores dessa análise: discurso polifônico, polêmica interna oculta, autobiografia polêmica, confissão, discurso que olha de lado e réplica sarcástica. Passo agora a observar cada um desses itens na obra de Kafka

4.1 – Discurso polifônico
       
“Pequena fábula” é um texto polifônico primeiramente por ser entrecruzado por várias vozes. O texto de Kafka é marcado pela presença do discurso direto, na verdade é constituído apenas de um diálogo entre os dois animais (personagens – o gato e o camundongo). A voz do narrador, assim, personifica-se na fala dos animais. Embora o discurso tenha as características próprias do discurso direto (limites ou fronteiras nítidas entre o discurso citado e o discurso que cita), o que se tem na verdade em “Pequena fábula” é uma fala do camundongo que não se dirige ao gato, mas a si mesmo. Marinho (1997), ao analisar os mecanismos enunciativos em “Vidas Secas”, apresenta alguns aspectos importantes em relação ao aspecto polifônico do discurso, aspectos que podemos observar também no texto de Kafka:

a)       Personagem apresentada como uma autoconsciência
Toda a fala do camundongo representa exatamente essa autoconsciência: “Ah – disse o camundongo -, a cada dia o mundo se torna mais estreito. No início ele era tão amplo que eu tinha medo, continuei correndo e fiquei feliz por finalmente avistar, à esquerda e à direita, muros ao longe, mas esses longos muros correm tão rápido um na direção do outro que já estou no último quarto e ali, no centro, está parada a armadilha para dentro da qual vou correndo”.
Primeiramente em “a cada dia o mundo se torna mais estreito”, percebo a tomada de consciência de que o mundo se estreita, inerente a essa noção, existe uma voz que a entrecruza, podendo ser ao mesmo tempo a voz de uma criança que começa a perceber que o mundo não é feito de fantasia, de sonho, mas sim, de realidade, e que essa nos põe limites todo o tempo, ou a voz social de uma classe reprimida que se arrisca a se perceber como tal.
Em seguida, quando o camundongo diz “mas esses longos muros correm tão rápido um na direção do outro que já estou no último quarto”, percebemos a conscientização em relação ao tempo e ao espaço (cronotopo), assim, o que parecia inicialmente confortável (“fiquei feliz por finalmente avistar, à esquerda e à direita muros ao longe”) torna-se o motivo de sua preocupação, de sua angústia, é como se o camundongo tomasse consciência de sua situação real e visse que o que ele tinha antes era apenas uma falsa segurança transmitida propositadamente pela voz do dominador que ele carrega gravada consigo inconscientemente.
Finalmente, a percepção de que caminha para uma armadilha: “ali, no centro, está parada a armadilha para dentro da qual vou correndo”. A utilização do verbo no gerúndio representa a continuidade, a progressividade de uma ação; o que significa que, apesar de tomar consciência de que corre para o seu fim, o camundongo não consegue parar . É como se essa conscientização viesse tarde demais, num momento em que já não há o que fazer, que o que resta é aceitar os fatos, o destino, a “cruz” ou qualquer coisa assim, colocada em nosso subconsciente através das gerações e que, como um tabu fossilizado, tornou-se uma verdade inviolável, indiscutível e imutável: ao pobre cabe ser pobre somente.

b)       Representação do homem no momento de crise e de reviravolta de sua alma

Tomar consciência deveria ser um ato de reviravolta, entretanto não é o que acontece em “Pequena fábula”. O camundongo está o tempo todo em crise, é como se o seu falso mundo confortável e seguro estivesse desabando, como se aquilo que se havia mostrado certo fosse na verdade uma projeção de sua mente que assim desejava enxergar e agora, diante da verdade dos fatos o que lhe restava era “dar uma reviravolta”, tomar uma atitude, entretanto, essa reviravolta não vem e o camundongo acaba devorado pelo gato.

c)       Orientação em relação ao discurso do outro e à consciência do outro

O camundongo, como já foi dito, elabora um discurso para si mesmo, é como se ele refletisse e tomasse consciência de uma série de fatos que jamais percebera antes, mas que de nada lhe servirão agora. Do outro lado, temos o gato, que também toma consciência da existência do rato, de seu questionamento e de sua inércia diante de seu destino. O discurso do gato, por sua vez, orienta-se em relação ao do rato, existe, na verdade, para o rato e, soa ao mesmo tempo como um eco da voz do camundongo, como se fosse a conscientização final do que fazer diante de toda a reflexão que ele vinha fazendo e, significa também, uma voz externa, a voz do dominante, aquele que tem o poder para livrar o dominado de seu estado de dominação, mas não o faz, exatamente por ser sua posição a mais confortável. O gato toma consciência das reflexões do rato, mas não reflete em momento algum sobre seu papel, sobre sua própria existência, como se ela toda se resumisse ao simples fato de observar o tolo rato, manipula-lo, devora-lo e, ainda ironicamente, entrar em sua mente e dizer o que ele deveria ter feito: “você apenas precisava alterar a direção da corrida”.
É polifônico, dessa maneira, o discurso, uma vez que se ouve juntamente com as vozes das personagens, vozes sociais representadas pelas personagens, respectivamente as vozes de dominados e dominantes numa sociedade capitalista.

4.2 – Polêmica interna oculta
               
                Todo o discurso do camundongo é fortemente marcado por uma polêmica interna oculta. Ele parece estar diante de acontecimentos reais da vida pela primeira vez e não saber como agir diante deles. Polemiza assim com suas próprias crenças, aquilo que lhe trazia conforto agora lhe serve de armadilha. A percepção de que existe uma armadilha fatal e de que se dirige a ela desencadeia no camundongo uma série de reflexões, entretanto, toda essa polêmica não é suficiente para livra-lo de sua armadilha. O rato parece seguir algum programa, algum comando interno, na verdade, internalizado, porque o que se tem aqui representado é um confronto íntimo entre a voz do rato que toma consciência de si mesmo e uma voz social internalizada: a de que ele é rato e de que ratos são assim mesmo, ratos são apenas o alimento dos gatos. Essa voz última vence e o rato que, embora se perceba inserido nesse jogo de dominador e dominado, prossegue em seu papel de vítima, de fraco.

                4.3 - Autobiografia polêmica

                Como diz a voz da sabedoria popular, a vida toda nos passa diante dos olhos minutos antes de morrer. Assim foi com o nosso personagem. Temos, em uma única fala, a biografia do camundongo. Nasceu, cresceu, criou seus próprios muros, aprisionou-se neles e agora se encaminha para sua própria armadilha. Muitas vezes fazemos isso conosco quando criamos e alimentamos preconceitos, acabamos por nos fechar em paredes virtuais que têm a função de nos manter afastados de tudo aquilo que não gostamos, não aceitamos ou simplesmente não entendemos ou não queremos entender e, no fim, ficamos presos caminhando em direção à nossa própria armadilha.
                Dentro do gato, o rato ainda é um rato, os muros que lhe cercavam deram lugar ao estômago do gato, mas talvez, ele se sinta confortável lá, afinal, já estava habituado a estar preso, a ser guiado; do estômago, segue certamente ao intestino, de lá ao reto e enfim, está livre novamente: eis a metamorfose universal: somos comidos, digeridos e excretados diariamente quando nos deixamos simplesmente dominar e, fazemos reflexões nulas que não nos levam a nada, porque reflexão sem ação é como caminhar pra armadilha: inútil.

4.4 – Confissão

                Mais uma vez, retomo a voz do camundongo, agora a percebo como confissão. O rato nos confessa seu desconforto diante da nova situação que se instaura. Ao mesmo tempo confessa sua passividade diante dela. Confessa saber que caminha para a armadilha e pior, confessa aceita-la como se fosse realmente dela merecedor. Entendo a crítica que Kafka faz às crenças em nós depositadas: acabamos por segui-las tão cegamente que, mesmo ao tomarmos consciência delas, nada fazemos.

4.5 – Discurso que olha de lado
                                                
                Como já foi dito, a voz do rato dirige-se a si mesmo, representa a sonorização de seu conflito interno. Mesmo quando fala da armadilha representada pelo gato, a ação é toda centrada em si mesmo: “a armadilha pra dentro da qual vou correndo”. O discurso do gato, por sua vez, revela-se todo voltado ao do rato. Ele está atento às reflexões do camundongo, aos seus questionamentos, sua tomada de consciência e, finalmente à sua inércia. Ao passo que todo o discurso do rato centra-se na primeira pessoa, característica própria do discurso monológico, a fala do gato apresenta-se com todas as marcas típicas do diálogo (cf. BRANDÃO, 2000): o gato responde ao rato, apresenta sugestões, aponta-lhe o caminho, a saída, mas enfim, segue seu instinto e devora-o.

4.6 – Réplica sarcástica
               
                O último elemento dessa análise diz respeito exatamente à fala do gato. Como já foi dito, seu discurso se volta ao rato, com todas as marcas tradicionais da réplica do diálogo, com um aspecto a mais, uma forte dose de sarcasmo. O gato sabe o tempo todo o que o rato deveria fazer para fugir, sabe mais, sabe que isso seria muito fácil e tranqüilamente possível, entretanto, só se pronuncia no último momento e de forma irônica, apontando o que deveria ter sido feito, quando ele sabe já não ser mais possível faze-lo.

5.       CONSIDERAÇÕES FINAIS
Como foi dito anteriormente, o objeto é inesgotável. O texto de Kafka pode servir de tema a inúmeros outros trabalhos/enunciados e cada um será, inegavelmente, único.
O que se buscou aqui foi a percepção da presença do dialogismo bakhtiniano com as múltiplas vozes (polifonia), um discurso polêmico e o uso de réplicas do diálogo cotidiano, dentro do gênero fábula.
Kafka, com seu estilo inconfundivelmente realista e crítico, consegue transmitir o conflito entre classes sociais de forma verdadeira, como deve ser a realidade; com personagens tão comuns em nossas vidas e em nossas histórias infantis e com uma ação que, aparentemente não apresenta nenhuma novidade: um gato que devora um rato. A novidade reside exatamente no dialogismo da obra, na tomada de consciência do rato, em sua polêmica interna, sua confissão e, de certa forma, sua decisão de tomar uma atitude passiva e conformista.
Por tudo que se observou, posso concluir que o texto de Kafka é polifônico, dialoga com o mundo de outros textos e com o mundo da consciência social, que é bastante crítico e que, como em qualquer fábula, carrega uma forte lição, precisamos, apenas, estar bem atentos, para percebe-la claramente.


RESUMO:- Este trabalho busca, à guisa das teorias enunciativas de Bakhtin, analisar o texto “Pequena Fábula” de Franz Kafka, para isso, é preciso uma cuidadosa analise do gênero ao qual o enunciado pertence, além da análise de elementos caracterizadores desse enunciado/gênero, bem como da esfera comunicativa a que pertence esse gênero.
PALAVRAS-CHAVE: dialogismo, discurso, fábula

6.        REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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BRANDÃO, H. N. Texto, gêneros do discurso e ensino In: CHIAPPINI, L. (coord. Geral) Gêneros do discurso na escola: Aprender e ensinar com textos – vol, 05, São Paulo: Cortez, 2000.

BURGUESS, Anthony. A literatura inglesa – trad. Duda Machado. São Paulo: Ática, 2001.

COELHO, Nelly N. Literatura infantil: teoria, análise, didática. São Paulo: Ática, 1997.
GÓES, Lucia P. Introdução à literatura infantil. São Paulo: Pioneira, 1984.
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MARINHO, Maria C. Novaes. Transmissão do discurso alheio e formas do dialogismo em Vidas Secas de Graciliano Ramos In BRAIT, Beth (org.). A construção do sentido. Campinas: Editora da UNICAMP, 1997
SOUZA, Geraldo Tadeu. Introdução à teoria do enunciado concreto do círculo Bakhtin / Volochinov / Medvedev. São Paulo: Humanitas/FFLCH/USP, 1999.
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