Cultura,
citando Edward Lopes (Fundamentos da Linguística Contemporânea), é tudo aquilo
que sofreu interferência do homem. Uma árvore no meio da floresta não é
cultura, mas ao ser tocada pelo homem e por ele modificada, ela passa, então, a
ser um objeto cultural. O amor conjugal é, portanto, cultura, mais que isso, posso
dizer que é uma criação social e histórica. Ele pode e deve, portanto, ser
direcionado a todas as pessoas. Quem estabeleceu que o amor conjugal tem de ser
entre sexos opostos, apenas e unicamente, foi um grupo de pessoas interessadas,
principalmente, em garantir a manutenção e a expansão de riquezas materiais. Casais
do mesmo sexo não geram filhos, não geram, portanto, mão de obra e nem geram
consumidores. Atualmente, quando indústria e comércio, enfim, perceberam que
gay consome, o discurso vem mudando.
Este grupo de
pessoas mal intencionadas vem, desde o século IV d.C. - a partir do Imperador Constantino,
para ser mais exato - usando o cristianismo de forma leviana, como bandeira
contra o amor homossexual, sendo que antes disso, a própria igreja havia realizado
casamentos gays. Falo do uso leviano do cristianismo porque esta religião
baseia-se fundamentalmente em um livro, composto por sua vez, de textos
escritos por autores diversos em épocas, locais e situações também diversos – a
Bíblia. A leviandade está em interpretar as passagens bíblicas de acordo com
esta ou aquela ideologia. O que se fez e ainda se faz é tomar a parte pelo
todo, empresta-se das ‘sagradas escrituras’ aquilo que convém e descarta-se,
inescrupulosamente, aquilo que desmentiria o que se pretende pregar. Como
consequência das múltiplas e nada inocentes interpretações da Bíblia é que
temos, atualmente, tantas e tantas ‘igrejas’ cristãs – cada uma defendendo
vorazmente seu quinhão. Como num grande mercado, os pastores gritam para vender
seus produtos, fazem promoção, competem como manda a cartilha do capitalismo e
não a do Cristo.
De Lutero até
hoje, lamentavelmente, aqueles que um dia protestaram contra a hegemonia
católica, agora se igualam a ela na ânsia de ganhar clientes e não fieis. E há
os que pegam em armas e matam para defender o Jesus que só falou em paz. E há
os que julgam e condenam em nome do mesmo Jesus que a ninguém julgou. O bom
exemplo quando esquecido é ruim, mas quando deturpado, é muito pior.
Em todas as
culturas, entre todos os povos, as variadas sexualidades sempre coexistiram e
sempre coexistirão. O homem é um ser que cria, é um ser relacional, ele busca o
outro e ama este outro, seja ele homem ou mulher. O afeto existe entre os
seres, emana dos seres. As muralhas, barragens e freios somos nós mesmos que
criamos. Veja a criança, o próprio Jesus as menciona várias vezes, as crianças
amam, simplesmente e demonstram seu afeto, sua fragilidade, medo, alegria, sem
tabus, sem padrões ou modelos.
Há muito tempo
a homossexualidade deixou de ser uma ameaça à existência da raça humana, antigo
argumento sustentado por quem nunca teve argumento algum. E, além disso, à tese
da criação cultural, soma-se uma outra: o elemento natural que merece destaque.
Em milhares de espécies, comportamentos homossexuais já foram registrados. Em algumas,
inclusive, há casos de relações monogâmicas duradouras entre espécimes do mesmo
sexo (http://www.estadao.com.br/noticias/vidae,homossexualidade-no-reino-animal,763657,0.htm),
como em alguns cisnes negros.
Desse modo, é
possível concluir que o homem, quer seja tomado como animal primata mamífero
bípede quer seja tomado como ser cultural sócio-histórico é um ser livre e vai
se relacionar com outros seres também livres, sejam de sexo
oposto ou não e essa decisão cabe única e exclusivamente a cada um e deve ser
sempre respeitada, como princípio básico da individualidade e da vida em uma
sociedade dita civilizada.
O
que precisa acabar, de uma vez por todas, é a intolerância. Intolerância é
sinal de atraso e de nada adianta sermos evoluídos intelectualmente, termos
tecnologia de ponta enquanto as pessoas discriminarem umas as outras pela sua
orientação sexual, ou pela cor de sua pele, sua religião, seu peso ou por
qualquer outro traço que diga respeito unicamente a quem tenha tal traço.
Ao longo da História,
milhares de pessoas foram mortas por serem homossexuais. Penso na quantidade de
gênios que a humanidade perdeu. Penso em quantos escritores, pintores,
compositores, filósofos, engenheiros, químicos, matemáticos, dramaturgos,
historiadores, arqueólogos, juristas etc. Quantos mais perderemos? Quanto tempo
mais perderemos numa discussão patética que já deveria ter sido deixada pra
trás há muito tempo, aliás, uma discussão que sequer devia ter começado?
Well said.
ResponderExcluirBravo!!!!!! (Y)
ResponderExcluirBravo!!!!!! (Y)
ResponderExcluirLeandro, gostaria de manter contato. Como fazer?
ResponderExcluirVocê pode me encontrar na minha página. Passe por lá, vc pode curtir a página e a gente conversa, então.
Excluirabç
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