REFLEXÕES SOBRE A LINGUAGEM
NOAM CHOMSKY
Chomsky
representa, no universo dos estudos linguísticos, ao mesmo tempo um rompimento
com o estruturalismo saussureano e com o behaviorismo de Skinner. Embora
mantenha, como Saussure, sua atenção voltada ao sistema, Chomsky difere deste
ao entender que, antes de ser social, a língua é um elemento individual, no
sentido em que se trata de uma capacidade inata do homem.
Ele propõe,
ainda, por meio do gerativismo, a ideia de que a partir de um finito número de
regras, o falante forma infinitas sentenças. Nesse sentido, o linguista rompe
com o behaviorismo, corrente para a qual a língua é aprendida/adquirida por
meio do estímulo aplicado a um comportamento esperado. Para o behaviorismo, a
língua é um ‘acidente’, isto é, a criança balbucia sons sem significado algum,
no meio desses sons, alguns se assemelham a palavras. Ao ouvirem seus filhos
balbuciarem tais sons, os pais acreditam ouvir palavras e, a partir disso,
passam a estimular seus filhos que, por resposta a um estímulo, começam a
repetir tais ‘palavras’ e, então, a falar.
A teoria
behaviorista é posta em xeque quando Chomsky comprova que a criança produz
muito mais do que ouve. Uma criança, desde a mais tenra idade, é capaz de
produzir enunciados que nunca ouviu, fato que evidencia o caráter criativo da
linguagem humana. Em decorrência disso, o pesquisador passa a afirmar que a
língua é uma capacidade inata do homem, isto é, o homem nasce com o mecanismo
linguístico pronto e vai se adaptar à língua falada em seu meio.
Difícil foi
para Chomsky comprovar sua tese. Não se pode negá-la, é verdade, entretanto,
tampouco podemos prová-la sem que restem dúvidas. Recentemente parece ter sido
isolado um gene que seria, possivelmente, o responsável pela linguagem
(MARTELOTTA, 2010). Mas tudo ainda é especulação.
Diante da
impossibilidade de provar com base na genética o caráter inato da linguagem
humana, Chomsky buscou outros recursos. Sua investigação o levou a desenvolver
a teoria da Gramática Universal. Segundo essa teoria, há princípios gramaticais
que são encontrados em todas as línguas conhecidas. Sem dúvida, há determinados
elementos que são recorrentes nas mais variadas línguas, como a capacidade de
dar nome às coisas, de indicar a passagem do tempo ou de se fazer referência a
algo dito anteriormente, por exemplo. Essa constatação vem reforçar a ideia de
que a linguagem é algo inato ao homem.
É inegável a
importância de Chomsky para a Linguística. Se há uma falha em seu trabalho que
mereça ser apontada ela diz respeito ao desprezo do cientista para com o uso da
língua. Chomsky, assim como Saussure, manteve o foco de seus estudos no
sistema, na langue (em termos saussureanos) e não no uso (parole). Com o
movimento que se chamou de virada pragmática, percebeu-se que estudar a
abstração sistêmica a fundo só pode ter como resultados teorias também abstratas
que pouco ou nada dizem sobre os sentidos emergentes nas interações sociais. De
que adianta entender só o sistema se o uso cotidiano o reinventa a todo
instante?
Numa disputa
entre Semântica e Pragmática na constituição dos sentidos, penso que ambas
perdem se isoladas e só têm a ganhar se unidas. Não é possível pensar apenas de
modo sistemático, entretanto, não se pode, também, renegar completamente o
sistema. Existe, inegavelmente, um significado ‘neutro’ para as palavras e
sentenças, um significado, digamos, livre das nuances do contexto. Esse
significado, entretanto, para ganhar sentido, precisa ser efetivado numa
situação real de uso, ganhando, em decorrência disso, peculiaridades novas,
sutilezas invisíveis ao olho do sistema.
Quantos
sentidos há em um simples “a porta está aberta”. É uma permissão para entrar em
um recinto? Um pedido para que alguém feche a porta? Uma ordem para que alguém
se retire? Ou uma observação de que alguém se esqueceu de fechar a porta? Os
sentidos só são efetivados no uso real da língua. Não podemos, entretanto,
negar que todos os possíveis sentidos acima elencados partem dos conceitos de
‘porta’ e de ‘aberta’ – sem os quais, não se teria entendimento algum.
BIBLIOGRAFIA
CHOMSKY, N. Reflexões sobre a linguagem. São Paulo: JSN,
2009.
MARTELOTTA, M. E. (org.) Manual de Linguística. São Paulo: Contexto, 2010.