TEXTO, TEXTUALIDADE E ENSINO

Na miscelânea das teorias, na miríade dos nomes e no caleidoscópio das ideias sobre ensino-aprendizagem de língua e literatura, há diversos caminhos possíveis. Este blog propõe esta discussão vista por diversos ângulos.

terça-feira, 30 de outubro de 2012

O mal da falta de informação

Como falta de informação faz mal: a eleição em São Paulo é exatamente o contrário do que estão dizendo - não foi um povo alienado - este sempre votou no PSDB - agora temos periferia fazendo faculdade, temos jovens pobres lendo e se politizando, como nunca antes. O velho medo, sabe, de dar uma educação de qualidade
e perder o poder, então, não que nossas faculdades privadas tenham excelente qualidade, mas eu, mesmo, vi muitos alunos que jamais teriam acesso ao ensino superior, não fosse PROUNI ou FIES lá, sentadinhos me ouvindo falar de argumentação jurídica. Então, essas pessoas já não são tão manipuláveis pela mídia, já não são tão inocentes nem excluídas ou alienadas. A nossa elite está desesperada, porque o dinheiro está começando a ser distribuído (nos últimos anos, os mais ricos ficaram 4% mais ricos, enquanto os mais pobres, 29% e isso assusta). Como sempre digo: elite mesmo, esta que se locomove de helicóptero, com iate, passa fins de semana em Nova Iorque, janta no Fasano quando quer, troca de Ferrari todo ano, tem jatinho particular, esta elite tem de estar com medo - classe média, que anda de carro (porque carro há muito não é coisa de elite, desde que o Lula chegou ao poder e a distribuição começou, todo mundo tem carro), que vive de salário (por melhor que possa parecer), que espera 13o. - isto não é elite e vota no Serra de alienação - esta é a pior das alienações. Classe méida bem perto de medíocre - não sabe o que é ser rico de verdade nem o que é ser pobre de verdade. É a pior porque tem condição de ter acesso à informação de verdade, mas tem preguiça de ler - prefere acreditar na globo, veja, folha... vergonha! Uma parte dessa classe média - da qual faço parte - entretanto, estuda e lê e sabe que um país com menos desigualdade é melhor para todo mundo - é menos violência, melhores serviços (funcionários mais bem preparados), mais exigência de qualidade em nossa TV, mais cultura, mais incentivo aos nossos artistas - atores, autores, escritores, músicos etc, mais pesquisa de ponta sendo feita aqui, maior participação do Brasil em decisões internacionais que visam à preservação ambiental, ao fim dos conflitos armados etc. Enfim, só quem não lê mesmo - quem tem preguiça de buscar informação - não percebe que um país com menos desigualdade é melhor para todo mundo - principalmente para quem está no meio, como nós, e não tem dinheiro para se cercar de seguranças 24 horas.

quarta-feira, 24 de outubro de 2012

Autores e obras: identidade e memória



            Autores e obras: identidade e memória



A literatura não é um bloco cronologicamente organizado como querem fazer pensar vários livros didáticos e alguns de História da Literatura. Os autores e os estilos predominantes não se sucederam uns aos outros de forma pensada e intencional. A verdade é que foi sempre uma profunda inquietação que moveu e move o homem em direção às transformações que ocorreram e ocorrem não só em Literatura, mas na arte de forma geral e, mais amplamente, em todo o saber humano.
            A História, quando estudada por uma perspectiva mais tradicional, tende a criar blocos temporais e espaciais que nos dão a impressão de que a vida só é desorganizada e caótica hoje e que no passado tudo aconteceu sempre harmoniosamente. Assim, parece-nos que aos primeiros contatos dos europeus com os povos que aqui habitavam, sucedeu naturalmente um interesse em explorar nossas riquezas e após esse primeiro interesse, também naturalmente, instalaram-se aqui pequenas vilas e essas vilas cresceram e se tornaram povoados maiores. Esses povoados reunidos decidiram que era hora de se desligarem da matriz e houve, então, nossa independência.
A impressão que se tem é que antes de 1822 jamais se havia pensado em independência, desconectando desse processo as iniciativas e revoltas todas que aconteceram antes, como a Inconfidência Mineira. Citar que houve um Tiradentes não basta, é necessário entender que esses processos todos estão intimamente ligados e se influenciando. Não haveria um pensamento abolicionista, por exemplo, se não tivesse ocorrido a Revolução Francesa e esta, por sua vez, também é fruto de um pensamento que vinha amadurecendo há muito tempo na Europa. Enfim, todo acontecimento histórico está sempre relacionado a outro e pode ser muito mais amplamente entendido se assim for estudado desde o princípio.
            Com a Literatura, em geral, acontece o mesmo. Estudam-se as chamadas escolas literárias separadamente e espera-se que depois o aluno faça as conexões necessárias. No máximo, o que se discute é a influência de uma escola na escola imediatamente posterior, assim, pensa-se nas influências do Arcadismo sobre o Romantismo, por exemplo, e deste sobre o Realismo, sempre seguindo essa abstrata linha temporal que alguém convencionou. Por que não estudarmos a Carta de Caminha em um contraste com o Brasil que se criou depois da semana de 22, ou que se almejou criar? Por que não encontrarmos elos entre Gregório de Matos e Oswald de Andrade ou entre eles e Chico Buarque, uma vez que esses e outros usam a literatura como arma de crítica sócio-política?
            Antônio Cândido (2007) propõe uma visão dialética dos períodos literários que não se anulam, mas se complementam. Temos, entretanto, de pensar que esses períodos além de se complementarem, também se mesclam. Isto é, há elementos fundadores nas literaturas nacionais que vão ser recorrentes em diferentes estilos, autores e gêneros. Esses elementos vão constituir o que seria a memória literária de um país e vão ser constituintes da própria personalidade dessa nação.
            A busca por uma independência cultural e a descoberta de um fazer literário próprio e legítimo, por exemplo, norteou as literaturas da América. Em relação aos Estados Unidos, por exemplo, segundo High (1997), a independência que ocorreu efetivamente política e militarmente, não aconteceu culturalmente, pelo menos não de imediato. Segundo o teórico, demorou mais de um século para que a literatura norte-americana desenvolvesse uma tradição independente da européia. Nem mesmo havia leitores para uma literatura de cunho nacional, porque, assim como aqui no Brasil, só era valorado o que vinha da metrópole.
            A construção de uma paisagem nacional, de um pensamento coletivo que de certa forma traduza uma nação ao seu povo sintetiza muito do pensamento que tem norteado a criação literária não só no Brasil como em todo o mundo. Muitas vezes, essa construção identitária se dá exatamente pela negação dessa identidade, como é possível ver nas correntes que rompem com modelos e padrões.
Nesse sentido, escritores e poetas desenvolvem suas obras seja no sentido de construção de uma paisagem, como foi o caso de Gonçalves Dias ou José de Alencar ou de desconstrução dessa paisagem como temos em Mario de Andrade ou mais contemporaneamente em Chico Buarque com Leite derramado. Esse processo é chamado de sacralização e dessacralização por Bernard (2003), isto é, a literatura se estabelece ora promovendo uma paisagem ora a desconstruindo, isto é, tanto a exaltação de um ideal nacionalista como sua negação servem ao propósito de elaboração de uma identidade nacional comum.
            Afrânio Coutinho (2008) fala de pelo menos três maneiras de se estudar Literatura. Primeiramente, fala da perspectiva história que parece ter predominado nos cursos de Letras, assim como no ensino médio e questiona esse formato, exatamente pelo que já foi aqui mencionado. Em seguida, o autor apresenta uma visão genológica dos estudos literários, isto é, voltado exclusivamente para o fenômeno literário em si. Finalmente, ele nos apresenta uma terceira possibilidade, que, aparentemente parece corroborar a discussão que ora se apresenta: uma visão baseada em gênero e estilo. Estudaríamos, assim, determinado gênero, o romance, digamos, em diferentes momentos históricos, dentro do estilo predominante em cada momento. Digo aparentemente porque o que se discute aqui não é uma evolução do gênero nos diferentes estilos, simplesmente, mas, numa visão mais bakhtiniana, seria um diálogo dos diferentes gêneros nos diferentes estilos. Assim, extrapolamos a noção de sequência histórica para buscarmos afinidades entre os vários momentos que formaram e formam a identidade literária do nosso povo. Bakhtin propõe, com sua idéia de dialogismo, que os textos todos estão em constante e profundo diálogo, isto é, nenhum texto está isolado da influência de outros, bem como de influenciar outros textos futuros.
            Segundo essa perspectiva, poderíamos desenvolver as aproximações necessárias a um entendimento mais crítico e amplo das literaturas nacionais. Uma literatura nacional deixaria, assim, de ser um bloco organizado cronológica e/ou espacialmente para ser um complexo processo de construção e desconstrução contínuas de uma paisagem histórica, social e política a partir de um mito fundador que é recorrente em diferentes gêneros e em diferentes estilos. Exemplo disso é a aproximação de Gregório de Matos e Chico Buarque anteriormente proposta, seria século XVI e século XXI dialogando, seria poesia e prosa se encontrando.

            A proposta deste trabalho é, dessa forma, estabelecer uma investigação literária que prime pela aproximação e não pela segregação, como tem acontecido tradicionalmente. Não é necessariamente um ponto de vista novo, mas inovador. O objetivo é provocar uma reflexão mais abrangente do fenômeno literário e preparar o aluno de Letras para entender, posteriormente, as características estruturais dos diferentes estilos e períodos literários sem jamais perder de vista o todo formador de uma identidade literária nacional.



BAKHTIN, M. Estética da criação verbal. Tradução feita a partir do Francês por Maria E. Galvão G. Pereira. São Paulo: Martins Fontes, 2ª. Ed., 1997.
BERNARD, Z. Literatura e identidade nacional, 2ª. Ed. Porto Alegre – RS: Editora da UFRGS, 2003.
CANDIDO, A. Iniciação à literatura brasileira, 5ª. Ed. Rio de Janeiro: Ouro sobre azul, 2007
COUTINHO, A. Notas de teoria literária. Petrópolis – RJ: Vozes, 2008
HIGH, P. An outline of American Literature, 15ª. Ed. England: Longman, 1997




PERÍODO ELISABETANO: UM BREVE ESTUDO



PERÍODO ELISABETANO: UM BREVE ESTUDO
Prof. Ms. Leandro Luz

All the world’s a stage
And all the men and
Women merely players.
William Shakespeare (as you like it)

O Renascimento, ou Renascença, é conhecido, na Inglaterra, como ‘Período Elisabetano’.
                O objetivo deste estudo é discutir alguns dos mais importantes aspectos desse período, bem como de seus principais poetas e dramaturgos.
                Antes de qualquer coisa, é importante entender alguns fatos históricos e algumas características do Renascimento. É válido também tratar dessa forte mulher, tão importante que um dos mais fecundos períodos da literatura e da arte inglesa é batizado com seu nome.
               
O RENASCIMENTO:

O Renascimento, movimento filosófico e cultural dos séculos XV e XVI, nascido na Itália e espalhado por toda a Europa, foi iniciado pela burguesia, que estava se formando ao redor dos feudos, nos conhecidos burgos. Tem como principais características o humanismo e o antropocentrismo. Petrarca (1304 – 1374 / precursor do humanismo e inventor do soneto), Bocaccio (1313 – 1375 / considerado o primeiro grande realista da história da literatura universal) e Dante (1265 – 1321 / “A divina comédia”, importante resgate clássico) são importantes nomes da literatura da Renascença italiana, que influenciaram o Renascimento inglês, aliás, já é sabido da influência desses nomes na literatura inglesa desde Chaucer (1343 – 1400).
A Renascença teve três principais pilares de sustentação: a razão: como manifestação do espírito humano, que aproximava o indivíduo de Deus; o privilégio às ações humanas – humanismo: reprodução de situações do cotidiano e o elogio às concepções artísticas da Antiguidade Clássica.
O humanismo, que está no cerne do Renascimento pode ser entendido como “perspectiva filosófica que salienta o valor intrínseco, a dignidade e a racionalidade dos seres humanos” (ROHMANN, 2000, p. 200).

                Segundo Burckardt (apud BERTHOLD, 2006, p. 269) “as duas molas propulsoras da Renascença foram a liberação do individualismo e o despertar da personalidade”.
                Para entender o que diz o autor, é preciso recuar alguns anos na História. Durante toda a Idade Média, não houve individualismo. Não havia espaço para as questões e angústias individuais, o que importava era a servidão a Deus, a obediência cega à Igreja. Não havia, portanto, discussão sobre personalidade. Se alguém nascia vassalo, seria vassalo sempre; do mesmo modo, se alguém era ungido com um trono e um cetro, seria rei sempre, era um dom divino.
                O Renascimento representa, dessa forma, um emergir do homem, uma busca de entender questões relacionadas ao cotidiano desse homem, que não é só mais um. O homem passa a ter idiossincrasia, passa a ter direitos e a questionar seus deveres.
                A arte busca no Classicismo greco-romano as bases para esse novo pensamento. O homem deixa de se anular em nome de uma religião, cujo principal interesse era exatamente garantir essa anulação do homem, em favor de seus próprios interesses, nem sempre tão divinos assim.
                Evidentemente, esse processo não aconteceu rapidamente nem de maneira fácil e pacífica. A igreja não aceitou tamanha mudança de comportamento. Veja o drama, por exemplo, durante a Idade Média, a Igreja usou o teatro como forma de doutrina, acontecendo dentro das igrejas ou ao redor delas, de forma processional. Quando o teatro adquire certa secularidade e deixa de ser interessante à Igreja, ela o proíbe então.
               

DINASTIA TUDOR E RAINHA ELIZABETH
           Na Inglaterra, um passo decisivo em direção a essa ruptura com a Idade Média, pelo menos no que tange à religiosidade, foi o rompimento do rei Henrique VIII (1491 – 1547), pai da rainha Elizabeth (1533 – 1603), com a Igreja Católica.
                O rei casou-se com Catarina de Aragão em 1509 e, com ela teve um filho que viveu apenas poucos meses e Mary (1516 – 1558), que, mais tarde viria a ser rainha, mas antes foi tratada como filha ilegítima do rei. Como a Igreja não aceitou o divórcio do rei e seu casamento com Ana Bolena (1500 – 1536), mãe de Elizabeth e condenada injustamente à morte mais tarde pelo próprio rei, por não lhe dar um herdeiro homem, ele rompe com o Papa e funda sua própria religião: o Anglicanismo. Na nova religião Inglesa, o chefe era o próprio rei. Assim, o rei Henrique VIII, considerado um dos mais cruéis reis da História, eliminou qualquer resistência da Igreja ao seu reinado.
                O rei Henrique VIII casou-se mais quatro vezes. Sua terceira esposa, Jeyne Seimour, morreu dez dias após dar à luz seu herdeiro varão, o príncipe Eduardo (1537 – 1553). O rei morreu em 1547, obeso e com indícios de sífilis.
                Com a morte do rei, sucedeu-se uma série de ascensões e quedas no trono britânico. O primeiro no poder foi o príncipe Eduardo, então com menos de dez anos. O Rei Eduardo VI, como foi chamado, foi o terceiro da dinastia Tudor (Henrique VII e Henrique VIII o sucederam) e o primeiro rei protestante da Inglaterra. Ele morreu cedo, aos 15 anos.
                Com sua morte, Lady Jane, prima do rei e protestante fervorosa sobe ao trono, mas por apenas alguns dias, logo é substituída por Mary, filha do primeiro casamento do rei. Mary é católica e restabelece laços com Roma. Com sua morte, Elizabeth sobe ao poder. Há, ainda uma forte disputa entre Elizabeth e a rainha deposta da Escócia, sua prima Mary Stuart (1542 – 1587). Mary conspira contra a prima, é descoberta e acaba decapitada em 1587.
                A rainha Elizabeth, também conhecida como a Rainha Virgem, sofreu diversos atentados e conspirações. Era protestante moderada e enfrentou, durante seu reinado, a Espanha, então maior força bélica da Europa. Com o passar dos anos, Elizabeth conseguiu estabelecer a paz e a prosperidade na Inglaterra. Exatamente o que era preciso para que emergissem grandes artistas nacionais.
                 



O DRAMA E O TEATRO ELISABETANOS

A literatura do período elisabetano não foi exatamente original. Essa busca pelo classicismo significou uma retomada de antigos ideais. Antigos textos passaram a ser relidos e reintegrados à vida artística do século XVI. Dentre os clássicos, podemos destacar Sêneca (tragédia) e Plauto (comédia) (BURGESS, 2001) como os maiores influenciadores.
Plauto (254 a.C. – 184 a.C.) foi um comediógrafo romano que, apesar do pouco estudo, influenciou muito o teatro elisabetano. Tem como principal característica uma “comédia de situações robusta, na qual predominavam elementos farsescos e chistes burlescos. Personagens cômicas, identidades trocadas, intriga e sentimentalismo burguês...” (BERTHOLD, 2006, p. 144)
Sobre Sêneca (4 a.C a 65 d.C), Berthold (2006, p. 270) afirma que

Se fôssemos escolher um marco para a “Renascença” do teatro, a data seria 1486. É o ano em que a primeira tragédia de Sêneca foi montada em Roma pelos humanistas e a primeira comédia de Plauto pelo duque de Ferrara.

                A tragédia romana, especialmente a de Sêneca influenciou os autores Elisabetanos mais que as tragédias gregas especialmente pelo seu nível de violência e de ação. Sêneca escreveu oito tragédias e foi condenado por Nero a se matar, por uma possível conspiração contra o ditador romano.
                Segundo Burgess (2001, p. 75)
               
(...) havia três maneiras de ser influenciado por Sêneca. Uma consistia em lê-lo (provavelmente na escola) no original; a segunda era ler certas peças francesas que revelavam sua influência, mas diluíam sua linguagem; a terceira era ler as peças italianas que se auto-intitulavam “à maneira de Sêneca”, mas estavam cheias de horrores encenados no palco. Essa terceira maneira era a mais popular entre os dramaturgos elisabetanos, incluindo Shakespeare.


                É possível perceber que o drama elisabetano se caracteriza pela imitação de modelos que imitam outros modelos. Isso em nada diminui a grandiosidade desse teatro. Ele nasce assim, é verdade, mas evolui para tornar-se também imortal e influenciador de tudo que lhe sucedeu, até hoje, de certa forma. Nesse sentido, vale lembrar que as grandes tragédias gregas escritas por Ésquilo, Sófocles e Eurípedes não eram exatamente originais, eram antes, histórias largamente conhecidas pelo povo. O valor dessas peças estava mais na elaboração da trama, do que na originalidade dela.
               
                A rainha Elizabeth e seu sucessor, rei Jaime I (1566 – 1625), foram profundos admiradores e incentivadores do teatro. É durante o reinado de Elizabeth, mais precisamente, na segunda metade do seu reinado, que o drama elisabetano começa a se fazer grandioso.
               
                A Londres do século XVI havia se transformado não só num centro econômico, talvez o mais importante da Europa, mas também num importante centro cultural. Para lá iam jovens de todas as regiões da Inglaterra a fim de melhores oportunidades de vida. Um desses jovens, vindo de Stratforf-Upon-Avon, veio a tornar-se o maior dramaturgo de todos os tempos: William Shakespeare.
                Quando Shakespeare chega em Londres, encontra uma cidade culturalmente avançada, ainda que as autoridades - o clero, os políticos e os nobres, tivessem diferentes e divergentes opiniões sobre o teatro. Felizmente, Elizabeth estava do lado da arte. Graças à rainha e a outros membros da nobreza, os atores passam a ser vistos como profissionais e a merecerem alguma consideração (BERTHOLD, 2006).
Constantemente, os teatros eram fechados pela igreja ou pelo prefeito, ou censores, devido ora a ‘abusos’ ora a doenças. Os dramaturgos, como Shakespeare, por exemplo, ganhavam seu sustento de seu trabalho com o teatro. Assim, precisavam mantê-los abertos e funcionando, daí a importância da figura da rainha os apoiando.
O espaço teatral elisabetano tinha uma estrutura muito particular.
Vale observar a descrição de Berthold (2006, p. 318) sobre o ‘The Swan”, construído em 1595 por Francis Langley

A estrutura cilíndrica acomoda três galerias de espectadores, sendo a mais alta protegida por um telhado inclinado para dentro. O círculo fechado do auditório é acessível por dois lances de escadas pelo lado de fora, dentro eleva-se acima da estrutura do palco. O amplo pódio de atuação, denominado proscaenium, projeta-se na arena interna descoberta. Duas portas levam ao mimorum aedes, camarins e contra-regragem. Em cima há uma galeria coberta por um toldo suportado por pilares. Esta poderia ser ocupada por músicos, tornar-se parte da peça como um palco superior ou servir de camarote.
Acima dessa galeria eleva-se um estreito atiço com duas janelas e um balcão à direita. Dali o corneteiro anunciava o começo da apresentação.

Burgess (2001, p. 80) assim define o teatro elisabetano

Um edifício que não se distinguia em nada da arquitetura de uma hospedaria, quatro lados do edifício dando para um grande pátio, com o palco no fundo do pátio. Um terço das galerias (ou varandas), que conduziam originalmente para os quartos de dormir, fornecia os lugares para os ‘mais afortunados’, enquanto as pessoas comuns ficavam no pátio


Abaixo, temos uma imagem do “The Globe”, o teatro mais famoso de Londres, onde, muitas das mais famosas peças de Shakespeare foram apresentadas.

  A existência de um espaço teatral representa um avanço em relação à Idade Média, quando as peças eram apresentadas em igrejas ou em praças.
A estrutura física do teatro elisabetano permite uma maior aproximação do ator com a platéia. Havia uma parte do palco que se estendia até quase o meio de onde ficavam as pessoas, em pé. Dessa forma, a platéia assistia às encenações muito perto dos atores e, por vezes, podia tocar nos figurinos e expressar suas opiniões sobre a ação ou a atuação dos atores em voz alta.
O teatro elisabetano era extremamente popular e democrático. A ele todas as classes tinham acesso, em espaços distintos, pagando preços diferenciados. Havia a nobreza, as autoridades, os comerciantes, o povo, os desgarrados, enfim, uma profusão de pessoas e personalidades. Os espetáculos precisavam agradar a todos, por isso, nas peças, principalmente as de Shakespeare, e nisso, talvez resida sua maior genialidade, é possível encontrar excertos de poemas líricos, ao lado de cenas de violência e sangue. É possível encontrar num texto shakespeariano, o belo e o grotesco, o sublime e o carnal, o ódio e o amor, a luta de espadas e o diálogo corriqueiro entre amas e senhoras, enfim, um arsenal de situações para agradar a esse público tão heterogêneo e exigente.
Foi um período em que atores e autores fizeram fortuna. É importante lembrar que, nesse período as mulheres não eram autorizadas a representarem em teatros, assim, os papéis femininos eram executados por atores.
As apresentações precisavam aproveitar a luz do sol, por razões óbvias, assim, costumavam começar por volta das quinze horas e terminar no máximo às dezessete. Os teatros passaram a ser pontos de encontro e de transações de diversos tipos: prostitutas atendiam clientes durante as encenações, vendedores ambulantes anunciavam seus produtos, credores e devedores se encontravam e, por vezes, desentendiam-se. Não era um ambiente silencioso e harmonioso, era antes, uma mistura ‘fervilhante’ de humores e interesses diversos e, por vezes, divergentes.


PRINCIPAIS DRAMATURGOS ELISABETANOS

                Thomas Kid (1558 – 1594 / pai da tragédia de vingança): Thomas kid escreveu A tragédia espanhola, com direta inspiração de Sêneca e influenciadora das tragédias shakespearianas de vingança. Trata-se do “assassinato de Horatio – que está apaixonado pela bela Belimperia – cometido por agentes de seu rival na paixão. Hieronimo, Grande Cavaleiro de Espanha e pai de Horatio, passa o resto da peça planejando vingança” (BURGESS, 2001, p. 76). A linguagem de Kid é memorável e, particularmente importante para entender a obra de Shakespeare, porque ao que tudo indica, ele inspirou a história de Hamlet, considerada por muitos, sua obra-prima.

                John Lyly (1554? – 1606):               “Primerio criador ‘polido’ de comédias” (BURGESS, 2001, p. 78). As peças são encantadoras: Endimion ( história de amor entre a lua e um mortal), Mãe Bombie, Midas e Campaspe (rivalidade entre Alexandre , o Grande e um pintor, Apelles, pelo amor da bela prisioneira Campaspe). Lyly foi senador e sua obra é fundamental no período elisabetano, ele criou o ‘eufuismo’ (euphuism), estilo altamente elaborado e artificial, suntuoso e afetado, com cadência e cheio de aliterações.

                George Peele (1558? – 1597): autor de O conto da velha viúva – “uma das primeiras tentativas de uma sátira dramática sobre aqueles contos românticos de encantamento e cavalaria que ainda eram tão populares na Inglaterra” (BURGESS, 2001, p. 79). Ele era também proprietário de um teatro.


                Ben Johnson (1574 – 1637): Ao contrário de Shakespeare, Johnson era um classicista nas regras poéticas e dramáticas. Suas peças respeitavam as unidades aristotélicas: a ação leva menos de um dia e a cena nunca muda o cenário inicial. Johnson tinha ainda uma teoria do personagem dramático, na qual, o ser humano é fruto de uma combinação simples e quase mecânica de quatro elementos, ou humores: sanguineo, colérico, fleugmático e melancólico. Esses humores se misturam em diferentes combinações formando as diferentes personalidades. Escreveu Volpone e o Alquimista, com o mesmo tema: o uso da credulidade das pessoas em proveito próprio. Johnson é o maior dramaturgo do ‘realismo’ (BURGESS, 2001, p. 102). Ele se empenha em criar sua obra a partir de situações de sua própria época.

                Christopher Marlowe (1564 – 1593): Introdutor do verso branco e considerado por muitos até superior a Shakespeare, Marlowe teve sua vida brutalmente ceifada a facadas numa taverna antes dos 30 anos. As circunstâncias de sua morte ainda são um mistério. Como todos os sábios da Universidade, tinha má reputação: ateu, ligado a ladrões, tinha amantes, vivia em conflitos com a polícia. Sua principal obra consta de cinco peças: Tamberlao, Doutor Fausto, O judeu de Malta, Eduardo II e Dido, rainha de Cartago. Ele representa a primeira voz autêntica do Renascimento inglês.
                Segundo Burgess (2001, p. 83):

Marlowe sintetiza a Nova Época. As antigas restrições da Igreja e as limitações impostas ao conhecimento tinham sido destruídas; o mundo começa a abrir-se, e os navios estão singrando para novas terras; a riqueza está sendo acumulada; os grandes invasores nacionais estão surgindo. Mas, acima de tudo, está o espírito da liberdade humana, do ilimitado poder e capacidade de empreendimento humano que as peças de Marlowe transmitem. Tamberlao é o grande conquistador, a encarnação do poder tirânico; Barabas, o judeu de Malta, refere-se ao poder monetário; Fausto representa a mais mortal de todas as fomes, a do poder que o supremo conhecimento pode dar.

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

BERTHOLD, M. História mundial do teatro. São Paulo: Perspectiva, 2006.
BURGESS, A. A literatura Inglesa. São Paulo: Ática, 2001.
ROHMANN, C. O livro das idéias. Rio de Janeiro: Campos, 2000.


BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

LEGOUIS, E. e CAZAMIAN, L. A history of English Literature. New York – USA: the Macmillan Company, 1948.
Literature and the language Arts – The British tradition – The EMC masterpiece series. Minsesota – USA.