TEXTO, TEXTUALIDADE E ENSINO

Na miscelânea das teorias, na miríade dos nomes e no caleidoscópio das ideias sobre ensino-aprendizagem de língua e literatura, há diversos caminhos possíveis. Este blog propõe esta discussão vista por diversos ângulos.

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Ensinar português

Somos texto. Nascemos e morremos lendo e produzindo textos. Não há nenhuma forma de conhecimento ou aprendizagem que não se dê por meio dos textos. Fora do texto não há vida. O universo é um grande texto em eterna construção.

Todo este aparente exagero textual presta-se ao grandioso serviço de resgatar a importância da língua em todas as relações humanas e, consequentemente, do professor de línguas. 

Pensando em tudo isso é que não posso admitir que alguém acredite que ensinar português pode se reduzir a ensinar um conjunto de regras, dicas, receitas de como ler ou escrever bem. Não é possível reduzir a importância da aula de línguas sem reduzir a importância da própria língua e, com isso, reduzir a humanidade que habita em nós. Somos animais que pensamos e pensamos em uma língua e é na e com a língua que estabelecemos contato conosco e com os outros.

Ensinar português é, pois, ensinar a ser humano. É, pois, ensinar a pensar, a ler o mundo, os outros e a si mesmo. As regras, se há mesmo regras, só fazem sentido se auxiliam neste intenso encontro do homem consigo e com o outro. 
Um pouco do capítulo do II e III, apenas complementando as informações já postadas pelas colegas Jussara e Denise.

O texto traz uma abordagem complexa de conceitos como gêneros de discurso e dialogismo que destacam a importância de conceitos fundamentais do filósofo russo, Mikhail Bakhtin, que fez uma obra considerada como fundamental para as áreas da Educação e Linguagem.

O Dialogismo é um processo de interação entre os outros textos de dialogarem entre si, mostrando as diversas vozes presentes em um mesmo discurso, além de estabelecer a relação de um discurso e outro. Ou seja, é como se ouvíssemos sempre ao menos duas vozes, mesmo que elas não se destaquem no discurso. Dessa forma, o autor nos mostra a importância dos vários sentidos que esse conceito pode assumir.

Após ler diversas vezes o mesmo parágrafo, página, conceitos e até dicionário, compreendo que língua, enunciado e gênero do discurso estão totalmente relacionados para Bakhtin, pois, elas são ferramentas importantes para o bom andamento de toda e qualquer comunicação.

Assim, as diversas atividades humanas formam vários gêneros do discurso, que segundo Bakhtin resulta em “um tipo relativamente estável de um enunciado”. Além disso, o filósofo russo nos ensina que toda a nossa comunicação, ou seja, quando falamos, escrevemos e até gesticulamos são por meio dos gêneros do discurso. Assim, existe uma infinidade de gêneros, que muitas vezes usamos inconscientemente no dia a dia, como, por exemplo, nas conversas informais. No entanto, esses tipos de gêneros não param de se transformar, são atualizados sempre, já que tudo é modificado, seja pelos hábitos ou até mesmo pela tecnologia.

Dessa forma, com uma extensa infinidade de gêneros, Bakhtin classificou os gêneros do discurso em dois grupos: primários e secundários. Os primários são os gêneros da vida cotidiana, são predominantemente, mas não exclusivamente, orais. Relacionam-se com as situações comunicativas espontâneas, informais e imediatas, como, por exemplo, uma carta, piada, bate-papo, bilhete, conversa telefônica e etc. Já os secundários aparecem nas situações comunicativas mais complexas e elaboradas, como a jornalística, jurídica, religiosa, filosófica, artística, científica, entre outras, que são mediadas pela escrita.

Outra grande questão é que um texto pode passar de um gênero para o outro quando for colocado em outro contexto, ou seja, em outra esfera de atividade, como o autor José Luiz Fiorin especificou no exemplo da placa de trânsito.

Vivian Cunha

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

FIORIN - INTRODUÇÃO AO PENSAMENTO DE BAKHTIN

CAPÍTULO 1

Bahktin nasceu ao sul de Moscou, era pobre de familia aristocrata, morou e trabalhou em diversas cidades, assim, desde pequeno convive com várias línguas o que facilita torná-lo ujm poliglota. Formou-se em Letras, História e Filologia. Ao longo de sua vida constituiu um grupo de amigos intelectuais. Em 1929 foi preso e devido a sua saúde precária a pena no campo de concentração foi transformada em exílio, condenado a 05 anos aproveitou esse tempo para escrever sobre sua teoria do romance. Em 1940 apresentou sua tese de doutorado, “Rabelais e a cultura popular”, após diversas polêmicas geradas pelo trabalho, o título de doutor foi negado pelo comite. Esse mesmo trabalho quando publicado em 1965, deu-lhe renome mundial. Faleceu em Moscou, em 1975.

Sua trajetória foi marcada pelo ostracismo (isolamento), exilio e pela marginalidade dos círculos acadêmicos mais prestigiados, no entanto sua escrita e reflexão, fez dele um dos grandes pensadores do século XX.

Sua obra é fascinante, inovadora e rica, mas também complexa e difícil, a leitura é árdua e trabalhosa.
 
JUSSARA

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

IDENTIDADE CULTURAL NA PÓS-MODERNIDADE

Acabei de ler o livro acima, do sociólogo britânico Stuart Hall. Excelente leitura, gostaria de recomendar. O autor apresenta as noções de sujeito e identidade, apresentando um panorama histórico que vai desde o Renascimento, passando pelo sujeito cartesiano e chegando aos dias de hoje. O livro discute a gênese da noção de sujeito, sua elevação ao posto de algo unificado e sólido e desemboca na noção de fragmentação e contrariedade tão típicos de nossa contemporaneidade.
O sujeito pós-moderno, na verdade, são muitos. Resultado de profundas mudanças no pensamento ocorridas desde o fim do século XIX, a identidade hoje é algo líquido, fluídico, quase indefinível.
Foi o Marxismo, com a dialética; Foucault com o poder da disciplina; Freud e a descoberta de que o homem é guiado por forças subconscientes que nem conhece; Darwin e a destruição do confortável mito de Adão e Eva; Saussure e a percepção de que a língua não é um conjunto de idiossincrasias, mas que ela é social; o Feminismo e tudo o que ele trouxe de transformação para as sociedades e; finalmente, a globalização como a entendemos hoje - altamente sustentada na ideia de consumismo - nós consumimos o mundo.
Eu acrescentaria, ainda, as ideias de Kardec - segundo as quais o homem, além do corpo físico e de um componente psíquico, possui, também, uma alma que é imortal e que esteve em outros corpos antes. Pensamento bastante controverso para quem insiste na ideia de um sujeito cartesiano - cogito ergo sum - racional, pronto e sólido. Finalmente, penso que seria válido citar Bakhtin, o que Hall não faz. Principalmente para complementar o que postulou Saussure. É óbvio que a língua é social, entretanto, seu aspecto social só existe na abstração. A partir do momento que se aciona a língua numa situação real de comunicação, ela passa a representar o sujeito (eu em oposição ao outro, como sugere Bakhtin), passa a ser um ato de fala concreto, único e irrpetível. Essa discussão pode e deve ser levada adiante por nós.
A ontogênese e a filogênese parecem se complementar quando se fala da consolidação e fragmentação do sujeito. A identidade não é algo inato nem na história da humanidade nem na história da pessoa - ela é uma construção, uma elaboração que nem sempre se dá de forma consciente. Aliás, o autor sugere que se fale atualmente em 'identificação' em vez de identidade, uma vez que um mesmo sujeito pode carregar diversas identificações.
Tudo isso me faz lembrar Fernando Pessoa e sua fantástica fragmentação - foram tantos poetas, tantas pessoas habitando o Pessoa que talvez seja ele o maior simbolo de toda essa discussão.
Vale, agora, refletir sobre o impacto de tudo isso na escola, mais precisamente no ensino-aprendizagem de língua portuguesa.

Leandro Luz